Tremores devastam quatro cidades, isolam
região do Peru e matam mais de 500 pessoas
Jaime Razuri/AFP |
Escombros de uma igreja em Pisco: mais de 200 soterrados durante a missa |
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A paisagem do Peru é diversificada. A Cordilheira dos Andes separa as planícies áridas do litoral da Floresta Amazônica existente na fronteira com o Brasil. O país também está muito próximo do encontro de duas placas tectônicas, a de Nazca, sob o leito do Oceano Pacífico, e a Sul-Americana, sobre a qual está o continente. Por isso, é sujeito a abalos sísmicos. Nos últimos seis anos, o Peru foi sacudido por quatro terremotos acima de 6,5 pontos na escala Richter, magnitude suficiente para danificar construções. Nenhum desses abalos é comparável ao ocorrido na noite de quarta-feira passada – um terremoto de 8 graus na escala Richter matou pelo menos 510 pessoas e deixou mais de 1.500 feridos. O epicentro do tremor ocorreu no Oceano Pacífico, a uma distância de 145 quilômetros da capital, Lima, e a uma profundidade relativamente rasa, de 40 quilômetros, o que ampliou seu poder de destruição. As cidades de Pisco, Ica, Chincha e Cañete, localizadas a cerca de 200 quilômetros de Lima, foram as mais afetadas. Em Pisco, oito de cada dez casas ficaram em ruínas. Duas centenas de pessoas foram soterradas quando uma igreja desabou durante a missa. Sem lugar no necrotério, dezenas de corpos se acumularam na praça central à espera de ser reconhecidos e levados pelas famílias. Em Ica, rachaduras nos hospitais obrigaram à transferência dos pacientes para barracas improvisadas de plástico. Outros 300 tremores menores foram registrados nas horas seguintes, e muitos peruanos preferiram dormir ao relento. Foi tal a intensidade do abalo que chegou a ser notado até por moradores de prédios altos em Manaus, Porto Velho e Rio Branco.
O presidente do país, Alan García, agiu com presteza. Horas depois do tremor, anunciou na televisão que medidas de emergência estavam em curso. No dia seguinte, visitou as cidades mais afetadas de helicóptero e reuniu-se com ministros. O departamento de Ica é uma das estrelas do atual período de prosperidade no país. Nos últimos vinte anos, áreas de deserto foram transformadas em plantações de alcachofra, tangerina, pimentão e abacate destinadas à exportação. O desemprego praticamente não existe na região. Na época da colheita, proprietários de terra e de granjas precisavam recrutar mão-de-obra em cidades mais distantes. O clima geral, agora momentaneamente abalado pela tragédia, é de otimismo. Alan García, que assumiu a Presidência pela segunda vez em julho do ano passado, adotou o Chile como modelo e procura tornar o Peru um dos países mais atrativos para investimentos externos na América Latina. Um tratado de livre-comércio com os Estados Unidos aguarda a aprovação do Congresso americano. O crescimento do PIB esperado para este ano era de 6%. Devido à destruição de estradas e aeroportos que isolou Ica, as previsões precisam ser refeitas.