PANORAMA ECONÔMICO |
O Globo |
2/8/2007 |
O presidente Lula resolveu fazer campanha, completamente fora de hora. Tem apenas sete meses de segundo mandato e decidiu subir no palanque. A ladainha é a mesma: os que discordam dele são acusados de tudo de ruim que aconteceu na História do Brasil. No meio do caos aéreo, com o PAC empacado, com a base política fazendo chantagem, o presidente faria bem se governasse o país. As vaias cariocas ficaram entaladas. Poderiam ter sido vistas como são: um fato natural na vida de um político. Elas ganharam destaque não por culpa da imprensa, mas porque Lula reagiu mal, não abriu os jogos Pan-americanos, e, desde então, vive para desmenti-las em palanques extemporâneos. Cancelou a ida ao Sul e foi ao Nordeste na esperança de ouvir só aplausos e, de novo, ouviu algumas vaias. Apesar de estar em início de governo, de sequer ter conseguido completar a nomeação do segundo escalão, Lula fez uma ameaça: a de surrar a oposição em 2010. Foi para o Centro-Oeste e, por medida de garantia, fez evento fechado só para militantes do seu partido. Lá, ameaçou pôr o povo na rua para defendê-lo dos que, na sua tosca visão da História do Brasil, estão contra ele porque estiveram também contra Getúlio e a favor da ditadura. O presidente manipula a idéia de que foi o líder da resistência à ditadura. Quem acompanhou os fatos sabe bem que as greves que liderou foram apenas uma parte do movimento do país, que houve outros e mais importantes líderes em momentos dramáticos, e que a fundação do seu partido ocorreu nos estertores da ditadura. Ele não é dono da resistência. Ninguém pode dizer no Brasil que encarna sozinho a luta contra a ditadura. Lula não tem o direito de acusar quem não o aplaude de ter apoiado o regime militar. Segundo o presidente: "Se querem brincar com a democracia, ninguém consegue pôr mais gente na rua do que eu." Democracia não é brinquedo, e pôr gente na rua não é atestado de democracia. Vários ditadores conseguiram isso. As vaias que o deixaram estomagado foram um fato trivial que pode acontecer a qualquer político. Depois das vaias, aconteceu algo realmente importante e grave: a queda do avião da TAM. De novo, a reação de uma parte dos assessores do presidente foi política. O resumo dessa distorção doentia de ver em tudo a briga política foi o top top top indecoroso de Marco Aurélio Garcia. Da vitrine do Palácio, Garcia mostrou que achou que tinha vencido aquele round pelas dúvidas levantadas sobre o reverso. E é o absoluto reverso: não há ganhadores numa tragédia tão dolorosa. O presidente Lula faria bem se governasse. Ontem, por exemplo, ele teve uma agenda mais correta. Dedicou sua manhã a discutir como evitar um novo apagão de energia. O país está em colapso logístico pelo apagão administrativo. E está assim porque o principal defeito deste governo é achar que tudo se resume a uma eterna briga política, que não cessa nem quando as urnas se fecham. Lula pensa em 2010, quando deveria estar sabendo como salvar 2007, garantir 2008 e planejar 2009. A base política se esfarinha pelo escândalo de Renan Calheiros e pela briga por cargos. Lula está aceitando a explícita chantagem de um grupo garotinho do PMDB do Rio para nomear Luiz Paulo Conde para Furnas. Conde será apenas uma cunha numa área da qual não entende lhufas. O interesse pela empresa tem a ver com o fato de que Furnas será sócia do mais caro, controverso e importante projeto do PAC. É uma temeridade deixá-la ser loteada politicamente. Há muito a fazer se o governo quiser governar. Primeiro, pacificar seus correligionários em relação à escolha de Nelson Jobim para a Defesa. O ministro pode não agir e ter que - como ensinou o ministro Disraeli - sair, mas já está se formando no petismo o mais leviano dos movimentos contra Jobim: ele não serviria por ser um híbrido, um meio tucano. Se o ministro der certo, será bom para o país e muito bom para quem governa. O caos aéreo atormenta os passageiros, aborta investimentos e destrói vidas e famílias. Se o presidente quiser governar terá que saber por que não são feitos os investimentos necessários para melhorar as estradas do Brasil que, em julho, mataram mais que o triplo de vítimas do acidente da TAM. Dinheiro no DNIT há; possibilidade de fazer concessões há; chance de PPPs, também. Nada acontece, e pelo problema de sempre: o governo Lula não tem gestores públicos. Os cargos estão ocupados por quem pensa exclusivamente na próxima briguinha política. Não é errado escolher políticos para cargos públicos. Mas é uma tragédia quando todo o desempenho no cargo passa a se orientar pela luta política. Depois das eleições, os governantes governam para todos, e não só para o seu grupinho, nem de olho no próximo palanque. É esse vício, tão exacerbado no governo Lula, que tem provocado paralisias, colapsos e apagões. Lula tem ainda 41 meses para o exercício do seu mandato. Só o bem governar, o exercício sóbrio da administração do país, as decisões refletidas e bem informadas darão a ele o que busca tão freneticamente em palanques: o reconhecimento permanente, o fortalecimento do seu grupo político. Mas o presidente e seus assessores estão atrás das claques organizadas, dos aplausos fáceis, do clima de campanha. A hora é de governar, senhores governantes. |
Entrevista:O Estado inteligente
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