O Rio está parando para pensar. O estado é diferente. E não só por sua história. Os números mostram um estonteante crescimento do interior e retrocesso na capital. Um índice de educação acima da média nacional, e um percentual maior de crianças fora da escola. Cerca 30% de renda vinda de aposentados. Um salto na arrecadação e queda nos investimentos.
O Rio de Janeiro tem uma peculiaridade que o torna diferente do resto do país e faz oscilar sua conjuntura econômica: o petróleo. No estado, estão concentradas as maiores reservas de petróleo do país. Como o preço da commodity aumentou muito nos últimos anos, o Rio teve um salto de arrecadação e foi tudo engolido pelos gastos de custeio de uma máquina cara e ineficiente.
Numa série de seminários, que começou na semana passada, o Rio passou a pensar no futuro “Além do Petróleo”. Organizado por Fecomércio, IBP e Iets, o movimento quer reunir pessoas de áreas diversas para um bom diagnóstico e planos de ação para a arrancada do Rio.
Os gráficos abaixo, apresentados pelo economista André Urani, mostram alguns dos retratos do Rio. O primeiro deles é do crescimento médio anual das regiões. Enquanto a área metropolitana, que concentra 75% da população, teve queda no período entre 1996 e 2004, as Baixadas Litorâneas e a Região Norte do estado tiveram média de crescimento anual do PIB superior a 25%.
— O Rio até tem crescido, mas de forma desconjuntada — diz Urani.
O segundo gráfico mostra como aumentou a participação do estado no setor extrativo-mineral no país.
Diminuiu em vários outros setores, mas cresceu no petróleo.
No setor, o Rio é quase 80% do total nacional.
O problema é que a indústria do petróleo é intensiva mesmo em capital, ou seja, circula muito dinheiro, mas isso não se reverte em mais vagas, pois ela não é intensiva em trabalho.
Além disso, quem estuda o assunto explica que ela se desenvolve longe de onde estão as pessoas. Assim, seu crescimento não tem um impacto forte na renda, como mostra o terceiro gráfico abaixo.
— Temos uma grande empresa no estado, a Petrobras.
O que ela ganha é principalmente apropriado pelo Estado e não vira renda das famílias, que é o que determina melhora de bemestar.
A renda no Rio só se segura por causa do peso crescente das aposentadorias, já que a renda do trabalho está caindo. Se não fossem as aposentadorias, o PIB estaria crescendo, mas com renda caindo — explica Urani.
O desemprego no Rio tem crescido mais que no resto do país. O estado tem o quarto maior índice de desemprego do Brasil. Também não são dos melhores os índices de expectativa de vida, ou de mortalidade infantil.
O de homicídios, o maior do país, é dramático.
E consome sobretudo jovens do sexo masculino.
O último gráfico da seqüência conta outra triste história. Ainda que jovens e adultos do estado continuem com uma escolaridade elevada quando comparada com o geral do país, o percentual de crianças de 7 a 14 anos que freqüentam a escola é bem menor que a média nacional. Isso é comprometer o futuro.
A receita com royalties do petróleo, que hoje representam 15% da receita total, aumentou 55 vezes de 1998 até o ano passado. Em compensação, o investimento do governo estadual caiu 15% entre 2002 e 2006 e a rubrica “outras despesas de custeio”, um completo saco de gatos dos gastos, cresceu 100% no mesmo período.
Entender os erros, os riscos e as chances do Rio e ter um projeto é uma saída. Melhor que ficar sonhando com o tempo em que a cidade era corte ou capital do país
Entrevista:O Estado inteligente
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