Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 18, 2007

MILLÔR

Separou-se da fonoaudióloga – cansado de ouvir poucas e boas

SEIS NOHTAS DE QUEM,
COMO TODOS VOCÊS,
NÃO AGÜENTA MAIS OUVIR FALAR BEM DO LULA

I Você já leu algum livro que seja tão bom quanto a orelha diz que ele é?


II Sempre que você lê um livro ou um dicionário tem sempre um índice remissivo.

Por que remissivo? Todo índice não é remissivo, remete a alguma coisa? Até aquela seta que você vê na rua, apontando a mão, não é remissiva?


III Outra coisa: a definição do alfabeto português no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras (Esta é a glória que fica, eleva, honra e consola), é:

"1. O alfabeto português consta fundamentalmente de vinte e três letras: a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, l, m, n, o, p, q, r, s, t, u, v, x, z.

2. Além dessas, há três letras que só se podem usar em casos especiais: k, w, y".

Nada contra (quem sou eu?). Mas por que fazer vinte e três letras de primeira classe e três de segunda? Não seria melhor botar todas as letras juntas e acrescentar: Sendo que k, w e y só podem ser usadas em casos especiais?


IV Nunca ninguém conseguiu me explicar como é que um cinto de segurança, esse merchandising maldito, faz com que uma criança tenha morte bárbara, arrastada por um carro durante sete quilômetros.


V
Tenho uma certa birra com a crase, essa "fusão de duas vogais". No meu tempo (meu tempo é daqui a 10 anos) havia também crase com a fusão de dois o, mas deixa pra lá. A regra da fusão é simples, qualquer professorinha aprende. Mas, como se transformou a crase num paradigma da cultura humana, a professorinha se acha um gênio, e, a qualquer aluno que erre no uso da crase, ela dá uma nota baixa, que humilha o aluno. Embora o poeta Ferreira Gullar tenha, sabiamente, legislado: "A crase não foi feita pra humilhar ninguém".

É curioso, num país de 50 milhões de alfabetizados, todo mundo errar no uso da crase. Proponho até transformar isso num problema social: se todo mundo erra, quem está errada é a regra. Já vi painel de mármore em ministério com a crase grafada erradamente. E já mostrei aos distraídos: "Nas placas de obra da prefeitura a 200 metros tem crase, a 500 quinhentos metros não tem". Os lingüistas da prefeitura acham, com toda a razão, que o uso da crase se mede a metro.

Falar em crase, de uns tempos pra cá decidiu-se (quem?) que à bessa deveria ser escrito à beça. Acontece que à bessa/à beça, essa coisa tão volúvel, antigamente nem usava o sinal da crase. A palavra era uma só – abessa.

Abonação: "Bessa, na locução adverbial abessa, em grande porção, em abundância. Cf. Manuel Viotti, Dicionário da Gíria Brasileira, s.v.".

Não tem de quê.


VI É preciso mudanças. Muita gente acha que o melhor é deixar como está pra ver como é que fica. Mas basta observar algum tempo qualquer pessoa sentada pra perceber que a mudança é fundamental ao ser humano. Nem que seja apenas pra descansar a outra parte da bunda.

O famoso arquiteto Sérgio Rodrigues, sentado em sua famosa Poltrona Mole, demonstrando nossa tese

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