Lula tem toda razão. Em seu governo a imprensa só publica coisas impublicáveis |
NOTHAS DE HOJE E SEMPRE
ÓCULOS
O ser humano é o único animal que usa óculos escuros. E nem era necessário. A vista humana é naturalmente adaptável à maior escuridão, e à maior claridão. Quer dizer, menos ao sol da praia; aquele sol de quarenta graus à sombra, esse exige proteção. E também à fama moderna, que precisa de ocultar a fama. Tem mais: a vista não se adapta à ressaca etílica, também chamada carraspana. Nesses casos a luz entra direto nos extremos nervosos da retina e dói paca.
Desses vários fatores cresceu a glória dos óculos escuros.
Mas, ao beneficiarem a vista, os óculos escuros começaram a afetar também a expressão corporal, pois você tropeça aqui e ali exatamente porque, na sombra, esqueceu que está de óculos (escuros).
Paralelamente a isso, estudando isso, os cientistas verificaram que, na comunicação entre sexos opostos (e até entre alguns apenas justapostos), a maior parte das informações é transmitida pelos olhos: 30% vêm das sobrancelhas, 20% das pestanas, 23% dos movimentos dos bugalhos (a bola branca do olho que serve pros ignorantes confundirem alhos com bugalhos), e o restante dos óculos escuros, que a mulher usa pra te examinar sem você saber que está te vendo. Pois é; e ainda nesses óculos se disfarçam e se ocultam outras tendências e intenções femininas. A mulher já ritualizou e simbolizou o uso dos óculos escuros e você tem que prestar atenção pra saber o que ela pretende quando usa os óculos já não nos olhos, mas na testa, no antebraço, na manga da blusa, ou até largados inocente e displicentemente no colo ou no decote.
Esses usos são ditados por razões psicológicas, tais como... Olha, ainda não sei bem, preciso aprofundar um pouco mais as minhas observações. Que, desde já, são auto-irônicas. Exemplos: outro dia eu almoçava com uma jovem – bem jovem, por pouco seria dimenor – e ela ria que ria de tudo que eu falava. Impressionado com meu próprio espírito, e com o encanto que provocava, de repente me dei conta de que ela estava de óculos escuros. E pensei: "Está me vendo 10 anos mais moço". Isso, é natural, fez com que eu me sentisse 10 anos mais moço. Ao todo 20 anos.
Mas, concluí, sábio e melancólico: mesmo assim não adianta nada. Foi em maio de 1997.
PEDESTAL
Enquanto Lula fuzila giratório em FhC, mais conhecido como herança maldita, e FhC fuzila, também pra trás, tentando invejosa e retardada rasteira em Lula, e Jarbas Barbalho, na sombra, procura levar o que sobrou do erário, eu fico aqui, na praça, contemplando a síntese final da glória humana.
Do alto do seu cavalo de muitas batalhas, o grande herói do passado olha a imortalidade ao longe, sabendo, agora, que jamais a alcançará em seu cavalo de pedra. E assim fica, empedernidamente sereno, alvo permanente do cálcio ocasional dos pombos, e alvo, raramente, de uma ou outra vaga curiosidade. No mais é apenas uma ilha de indiferença, cercada pelas mesquinhas necessidades diárias de uma pequena classe média que vai-e-vem. Ou ao contrário.
Falei.