O grande teste
Na crise de 1929, os bancos centrais precipitaram o crash
ao negar ajuda aos mercados. Eles aprenderam a lição
Giuliano Guandalini
A Grande Depressão da década de 30 foi o acontecimento mais marcante da história econômica mundial contemporânea. Exceto em períodos de guerra, nunca o planeta viveu uma destruição de riqueza tão avassaladora, num período tão curto e que afetasse tantas pessoas – o produto interno bruto (PIB) dos Estados Unidos encolheu 45% entre 1929 e 1933. O estudo desse fenômeno mobilizou os mais destacados economistas, mas quem chegou à melhor análise sobre o que levou à catástrofe financeira foi Milton Friedman (1912-2006), ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 1976. Em co-autoria com Anna Schwartz, Friedman publicou em 1963 o livro Uma História Monetária dos Estados Unidos, no qual demonstrou como o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) não só precipitou o crash de 1929 e a depressão que se seguiu como agravou a situação ao garrotear o crédito elevando os juros e diminuindo a quantidade de dinheiro em circulação.
Graças ao trabalho de Friedman e de outros economistas, os principais bancos centrais do mundo aprenderam a lidar com crises potenciais. Foi o que se viu na semana passada, durante a queda acentuada de praticamente todas as bolsas de valores do mundo, provocada pela crise no mercado de crédito imobiliário americano. A turbulência começou na quinta-feira. Horas depois, o Fed e o banco central europeu já despejavam dinheiro nos mercados financeiros. Até a sexta-feira, o socorro totalizava 300 bilhões de dólares – o equivalente a um terço do PIB brasileiro. Isso foi necessário porque, diante da falta de crédito, os bancos encontraram dificuldades para obter empréstimos com outras instituições financeiras – alguns deles precisavam cobrir perdas que tiveram com financiamentos imobiliários nos EUA. Sem a atuação dos BCs, haveria o risco de um fechamento total das linhas de crédito – e sem crédito não há economia que funcione. "Os bancos se sentiram inseguros e começaram a querer mais liquidez. Quando muitos agem dessa forma simultaneamente, o crédito seca e fica caro. Esse processo pode ser instável. Os BCs agiram, então, pelo medo do imponderável", afirma o economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central do Brasil. "O poder dos BCs é grande, mas não é infinito. Daí a importância de agir na hora certa, antes que o pânico se espalhe", disse Fraga.
O estouro da bolha imobiliária já era mais que esperado. Os seguidos anos de juros baixíssimos estimularam uma concessão de crédito desenfreada na economia americana. Os bancos começaram a emprestar dinheiro até a pessoas com histórico de crédito deficiente (os chamados de subprime). Mas, nos últimos meses, os juros começaram a subir, o financiamento ficou mais caro e a inadimplência disparou. Para estancarem prejuízos, os investidores venderam ações que possuíam em carteira, não só nos Estados Unidos e na Europa, mas também em mercados emergentes, como o Brasil – no mês, a queda é de 3% (veja o quadro). Não há dúvida, de acordo com os economistas, de que os mercados passarão por um período de volatilidade elevada – ou seja, as bolsas viverão dias de montanha-russa, com quedas abruptas seguidas de altas.
Segundo o economista José Júlio Senna, essas perdas não deverão ter maiores conseqüências. Isso porque os países emergentes deixaram de ser bombas-relógio, o crescimento mundial continua forte e o setor privado tem muito dinheiro em caixa. Não menos vital é a inegável eficiência dos bancos centrais. Símbolo desse avanço é uma declaração do atual presidente do Fed, Ben Bernanke, feita em 2002, durante uma conferência comemorativa do nonagésimo aniversário de Milton Friedman. Bernanke, que era então diretor do Fed, afirmou: "Gostaria de dizer algo a Milton e Anna: a respeito da Grande Depressão, vocês estão certos, nós (os BCs) erramos. Lamentamos muito. Mas, graças a vocês, não erraremos novamente". Ao que parece, Bernanke está preparado para o grande teste. É o que o mundo espera.
Entrevista:O Estado inteligente
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