Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, agosto 10, 2007

Luiz Garcia - Malufismo arretado




O Globo
10/8/2007

A enxurrada de denúncias contra o senador Renan Calheiros está chegando, com força e estrépito, ao Supremo Tribunal Federal. Não há instância mais alta no Judiciário, mas não vai daí que o novelão está próximo de seu desfecho.

A trama se iniciou com a denúncia, grave mas singela, de um comportamento apenas suspeito. O uso por Renan dos prestimosos ofícios de um lobista para pagar à ex-amante a pensão do filho podia ser ou não indício de uma ligação suspeita com uma grande empreiteira.

Até hoje as investigações a respeito não terminaram, mas ninguém parece muito preocupado com isso.Ocorreu um fenômeno previsível e certamente necessário: a partir da primeira acusação, abriu-se uma temporada de devassa nos negócios particulares do senador. Uma coisa puxou outras. E outras não faltavam.

Do levantamento das formas de pagamento usadas pelo amante azarado chegou-se, em etapas, à origem de sua fortuna pessoal. O resto do Brasil ficou conhecendo o que só Alagoas sabia de cor e, como em outros casos, não contava: a história da construção da fortuna de Renan, desde os seus primeiros passos do palco federal.

Naquele tempo, ele fora apenas mais um no grupo responsável pelo negro esquema político e financeiro que levou Fernando Collor ao poder. Como brigou com o chefe e saltou do barco antes de deflagrado o escândalo, Renan escapou ileso do impeachment e da renúncia de Collor.

Foi como se não tivesse coisa alguma a ver com o projeto escandaloso de que participara desde a famosa reunião de Pequim.

Ninguém, tanto no campo político como na mídia, sequer desconfiou de que o jovem talento podia ter brigado com o chefe, mas só depois de aprender como subir na vida a galope.

Investigações da Receita e do Ministério Público Federal em Alagoas descrevem etapas desse galope - e mostram negócios supimpas.

Como a venda superfaturada de uma fábrica à Schincariol, em troca do empenho do senador em evitar a execução de uma dívida da cervejaria no INSS. Ou a compra, debaixo do pano, de vastas terras na terra natal da família Calheiros. Ou a aquisição de um forte grupo de comunicação, com o uso de laranjas - precaução rotineira e elementar em qualquer negócio malcheiroso.

Nós aqui, uns tantos paralelos abaixo, só agora descobrimos que, diferente em estilo mas irmão no apetite, Alagoas tem um brilhante praticante do jeito malufista de fazer política.

No Sul Maravilha ninguém desconfiava.

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