Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, agosto 03, 2007

Luiz Garcia - Antes, o apagão ético




O Globo
3/8/2007

Nenhum governo nomeia inimigos para cargos públicos. Mas isso não desculpa encher a máquina do Estado com pessoas que, direta ou indiretamente, garantam votos no Congresso para o Executivo.

Supostos entendidos alegam que de outra maneira não se governa. É premissa comodista e certamente discutível.

O uso político (no mau sentido) da ocupação dos quadros de governo começa sendo imoral - e quase sempre produz incompetência. Quando predomina, vão para o espaço a competência e o espírito público. E predominam objetivos políticos imediatistas; ou seja, do tipo sórdido.

O dicionário define imediatismo como "filosofia e prática daqueles que cuidam absorventemente do que dá vantagem imediata". Esse último adjetivo é crucial: quem vende apoio político em troca de nomeações exige e recebe pagamento à vista.

É o que acontece neste momento, em que o Congresso está perto de votar um projeto mudando o destino da receita da CPMF. Passaria para estados e municípios um naco considerável de um dinheiro que hoje vai para a União - que, claro, odeia o projeto. Ele está nas mãos do peemedebista Eduardo Cunha, aliado da família Garotinho.

Pois o Congresso voltou do recesso esta semana festejando a notícia da nomeação de Luiz Paulo Conde, da mesma tribo de Cunha, para a presidência de Furnas. Foi escolha puramente política, no mais lamentável sentido do termo: o termo "energia" jamais apareceu no currículo do escolhido.


Ele foi ativo e elogiado secretário do prefeito Cesar Maia, a quem sucedeu, com desempenho considerado razoável. Depois disso, passou a desempenhar, como aliado do casal Garotinho, papéis com menos poder e substância.

É com esse retrospecto que Conde se credencia - ou não se credencia, vocês que sabem - para presidir Furnas, no período que pode ser a véspera de uma crise nacional de energia. O problema não se refere diretamente ou apenas a uma avaliação de sua competência pessoal: o efeito realmente catastrófico mais grave será uma previsível invasão dos quadros da empresa por membros e aliados da família Garotinho. E esse risco para a eficiência do sistema elétrico nacional o novo presidente é certamente incapaz de evitar: ele faz parte da tribo, e nem pajé é.

Enfim, a escolha em Furnas sugere que o governo petista já optou pelo cinismo em face das ameaças no campo da energia elétrica: ora, companheiros, o apagão, se acontecer, será problema para quem vier depois.

Ou de quem já está por aí, como nós todos. Vítimas de um apagão só ético, por enquanto.

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