Entrevista:O Estado inteligente

domingo, agosto 05, 2007

Governo não investiu mesmo nada

Alberto Tamer

A semana mais calma lá fora até sexta-feira, com a Bolsa americana caindo fortemente só no fim do dia, mas sem contaminar ainda a economia, e sem mudança aparente no Brasil. Confirma-se cada vez mais que não estão investindo o dinheiro público que já existe - mesmo mantendo um bom superávit fiscal. Surgem, agora, novos dados.

A propósito, vocês conhecem o PPI? É Projeto Piloto de Investimentos. São projetos classificados pelo governo como absolutamente prioritários que constam do PAC, Programa de Aceleração do Crescimento.

Pois bem, a colega do Valor, Claudia Safatle, informa em sua coluna de sexta-feira que, dos R$ 11,3 bilhões colocados como disponíveis em 2007, foi gasto apenas R$ 1,18 bilhão, utilizado no primeiro semestre.

Tem mais. No ano passado, o orçamento dos PPIs, dos “projetos absolutamente prioritários”, era de pouco mais de R$ 3 bilhões para o primeiro semestre. Sabe quanto foi utilizado no primeiro semestre daquele ano? A “gigantesca” soma de R$ 846 milhões! Um investimento magnífico em obras urgentes e indispensáveis. Dados oficiais.

Está confirmado, assim, o que dissemos na última coluna: há dinheiro, mas não existe eficiência administrativa para aplicá-lo em obras que o próprio governo selecionou, as maiores em infra-estrutura, como absolutamente prioritárias. Dá para imaginar as outras...

NÃO HOUVE ERRO, NÃO

Esclareço a alguns leitores que registraram um erro que a coluna teria cometido ao afirmar que havia dinheiro sobrando, quando grande parte desses recursos constava da conta do superávit fiscal indispensável que não devemos gastar. Não houve erro, não. Todo dinheiro para investimento já havia sido descontado daquela conta fiscal. Eram recursos cobertos pelo aumento da arrecadação.

Portanto, não é “dinheiro ruim”. É dinheiro “bom”, veio dos 34%, 35% (oficiais), mas, na verdade, 40%, de impostos que você e eu pagamos; que as empresas pagam e poderiam criar mais empregos. Todos nós até concordaríamos em pagar mais se o nosso dinheiro voltasse para a sociedade.

ENERGIA NÃO VAI FALTAR

É o que o governo informou na semana, após uma reunião extraordinária e de emergência convocada pelo presidente. Ele está superpreocupado com a lerdeza dos projetos e das obras. Lula teme o risco do racionamento. A conclusão foi que, se as usinas em obras ou programadas caminharem sem atrasos, se o PIB não “pecar” contra o País e crescer não mais de 4%, se chover como choveu até agora, se instalarmos mais usinas térmicas, se, se, se, então está tudo bem.

Só que as obras estão atrasadas, projetos como os do Madeira se arrastam, o Ibama tem ainda de ser “consultado”, e vocês já sabem no que vai dar.

MAS VAMOS AO MUNDO

As bolsas continuam instáveis, mas sem contaminar, ainda, a economia americana. Os indicadores da semana não são brilhantes, mas não desanimam. A criação de emprego, em julho, cresceu menos, apenas mais 92 mil; a média mensal ficou em 132 mil no ano, mas os salários aumentaram para US$ 17,45 a hora e a produtividade continua alta.

Em decorrência desses dois fatores, mesmo crescendo menos, a demanda interna se manteve, sem pressionar a inflação. A crise do setor imobiliário ainda não afetou o mercado consumidor.

O PIB no último trimestre teve alta de 3,4% e o que a opinião pública americana vê como recessão é apenas um crescimento menor, 2%, porém, sadio, sem inflação e sem pressão sobre os juros. O aumento das exportações também ajuda a criar emprego e reduzir os preços internos. O quadro é morno, mas longe da recessão.

OPEP, US$ 650 BILHÕES!

Para variar, o fato mais negativo veio da Opep. Ela reafirmou que não vai produzir mais petróleo, mesmo tendo reduzido as exportações em 2006. Anunciou-se, também, que só neste ano a renda dos países da Opep, com o petróleo, foi de US$ 650 bilhões, mais da metade do PIB brasileiro. Destes, US$ 193,7 bilhões foram para os cofres da Arábia Saudita, que mantém ainda uma capacidade ociosa acima de 3 milhões de barris/dia, mas reduziu em 20% suas exportações.

Com o preço acima de US$ 75 e caminhando para mais de US$ 80, e com as futuras compras para enfrentar o inverno no Hemisfério Norte, seguramente a renda dos países “opepinos” vai superar em muito os US$ 650 bilhões de 2006, quando o preço médio era de US$ 50.

Ou seja, eles continuam extraindo tudo o que podem do mundo refém. Louve-se o vigor econômico que permite absorver a explosão de preços sem maior inflação. Mas até quando ou até quanto isso poderá continuar? Até US$ 100 o barril? Mais?

Qual o limite para a ambição dos donos do poder desse Oriente Médio banhado em sangue e petrodólares?

*E-mail: at@attglobal.net

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