BRASÍLIA - A Câmara fará uma audiência pública para discutir a necessidade de o Brasil ter uma liga feminina de futebol.
O autor da idéia é Gilmar Machado (PT-MG). Para ele, "o governo tem incentivado o esporte, em todas as áreas, e o futebol feminino não pode ficar de fora". E mais: "Para que o Brasil seja de fato o país do futebol, deve ser representado por 100% da população. O país de futebol de homens e mulheres".
Eis aí uma demonstração completa e acabada da mentalidade brasileira média. Tudo começa e termina no Estado. O nhonhô é o governo. Não tem futebol feminino? O governo precisa se mexer. Não tem jogo de peteca (badminton) no Brasil? Cesar Maia (supostamente um político liberal) começa a distribuir kits pelo Rio de Janeiro e incentivar os cariocas a se tornarem adeptos desse jogo curioso.
Nem sempre o Estado é o responsável pela disseminação de um esporte. Tome-se o caso do futebol nos Estados Unidos. Um dia alguém quis fazer o melhor time do planeta. A Warner criou o Cosmos -a história está no documentário "Once in a Lifetime - the extraordinary story of the New York Cosmos", lançado só nos EUA, mas disponível em DVD na Amazon.com.
Gastaram milhões. Pelé, Carlos Alberto e Beckenbauer foram contratados. Não deu lucro. O Cosmos faliu. Torrou-se apenas dinheiro privado. Uma semente foi plantada. De 1990 para cá, os EUA se classificaram para todas as Copas do Mundo. O futebol feminino deslanchou. Passou a ser rentável.
No Brasil, com a proposta em curso, certamente discutirão quanto os governos terão de oferecer em dinheiro para "promover o esporte". Capitalismo? Nem pensar. O Estado-nhonhô resolve tudo. Se der errado, culpe-se o imperialismo ianque, o FMI ou um vilão de plantão qualquer. Ou a falta de "grooving" na pista de Congonhas.
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