SÃO PAULO - Ninguém sabe dizer qual será a duração da turbulência nos mercados financeiros globais.
Nem quais os desdobramentos da confusão, se é que haverá e se é que irão além do mundo fechado do cassino financeiro para alcançar a economia real.
O que, aliás, dificulta previsões é justamente o componente cassino na crise. Tome-se o caso do risco Brasil. O risco cresceu 5,14% da quarta para a quinta-feira. Ontem, continuava crescendo pelo menos até o momento de escrever. O que aconteceu na economia real, na vida real, no Brasil em geral de um dia para o outro? Nada. Nem mesmo aumentou o risco de pôr dinheiro no Brasil, que é, enfim, o que mede o tal risco-país.
Aliás, nem seria preciso dizer tais coisas não fosse o infernal vozerio dos agentes de mercado, que costumam conseguir que seus gritos sejam tomados como as tábuas da lei. Qualquer pessoa com um dedo mindinho de bom senso sabe que economias não sofrem mudanças drásticas do dia para a noite, salvo em casos excepcionais de catástrofes, que não aconteceram nesses dois dias de turbulência.
O risco-país mede apenas o humor dos investidores, nada além disso. O verdadeiro risco-país não faz mexer um músculo na face da "pátria financeira": está dado pelas balas perdidas, pelo apagão aéreo, pelo sofrível desempenho dos estudantes brasileiros em testes internos e internacionais, pelas macas nos corredores dos hospitais públicos, pelo grau de corrupção da pátria, pela obscena pobreza e pela desigualdade idem.
O problema é que o falso risco-país, aquele estabelecido pelos mercados, pode perfeitamente continuar trabalhando contra, como fez na quinta e na sexta-feira, e acabar levando a dificuldades também para os que não jogam no cassino. É a economia contemporânea: o cassino pode tirar todos para dançar.
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