ATÉ ONDE posso entender, o governo deu passo certo para atenuar a crise. Pelo menos, foi isso que defendi, logo após o acidente em Congonhas: cortar vôos, reprimir a demanda. Isto significa, é claro, reconhecer que o crescimento do setor foi caótico e insustentável. É preciso recuar, ganhar fôlego e nesse período recompor a malha, focar na infra-estrutura e organizar um serviço decente de atendimento ao usuário.
A demanda reprimida pode dar margem a aumento de passagens, mas isso deve ser visto apenas como período de transição. Pode ser que, no fim dele, saia um plano nacional de longo prazo e mesmo dentro ele algumas medidas inadiáveis já comecem a ser tomadas.
Um trem para Cumbica, é uma delas; o reaparelhamento do terminal 1 do Galeão é outra, assim como um melhor aproveitamento de Confins. Vai ser preciso um pouco de ousadia para reestruturar o setor. Vi passar alguns bons técnicos pela CPI. Isso significa o que já esperava. Não é possível que um sistema complexo como o brasileiro não os tenha produzido.
O problema vai ser dar um balanço na capacidade de articular essa capacidade técnica para sair da crise. No caso de concluir que as dificuldades políticas não o permitem, contratar uma grande empresa especializada para apresentar seu diagnóstico.
Tudo isso leva tempo. O trânsito nas estradas tende a aumentar, apontando para outra fragilidade infra-estrutural. Daí o grande desafio de determinar o máximo possível de vôos, dentro de um limite de segurança.
E essa batalha precisa ser vencida. Pequenas panes estão se revelando quase diárias. O aparato de segurança, oficial e das empresas, revelou-se pouco conservador para as circunstâncias. Quem analisasse os fatos na pista de Congonhas desaconselharia o pouso de um avião com uma limitação técnica para aquele tipo e extensão de pista.
São coisas que aprendemos depois do desastre. Agora somos mais responsáveis ainda pelas nossas vidas. Nem todos que viajam por trabalho podem deixar de usar avião. Temos de enfrentar a crise juntos.
Aliás, essa foi minha disposição no apagão elétrico. Agora, o impacto econômico da crise pode ser menor, mas sua proximidade física é muito maior.
É sempre muito difícil contribuir com um governo que se considera conhecedor de todos os problemas e se refugia na defensiva. A idéia de uma ajuda externa foi bombardeada. O mundo, hoje, é quase todo interligado. Nos aviões brasileiros, viajam várias nacionalidades.
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