Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 04, 2007

AUGUSTO NUNES SETE DIAS

Um bom piloto não some

Na noite de 18 de julho de 1969, ao acionar o motor do seu Oldsmobile, o senador Ted Kennedy exibia no rosto duas marcas de família: o sorriso amplo e, emoldurada por seus lábios entreabertos, a dentição perfeita. Tinha motivos para sentir-se feliz. Fora muito animado aquele jantar oferecido por amigos na ilhota de Chappaquiddick, no Estado de Massachusetts. E os Kennedy sempre gostaram de festa. A secretária Mary Jo Kopechne, jovem e atraente, aceitara o convite para acompanhá-lo na viagem de volta. E os Kennedy sempre gostaram de sexo.

Aos 37 anos, Ted poderia esperar sem pressa a hora de candidatar-se à Presidência dos Estados Unidos. Senador admirado até por adversários, herdeiro e guardião da memória de duas lendas americanas, o irmão caçula de John e Robert acreditava que o pouso na Casa Branca era questão de tempo. E os Kennedy sempre amaram o poder.

Pode ter sido o álcool. Pode ter sido o sexo. Pode ter sido o sonho. Por algum motivo, uma guinada brusca no volante fez o carro saltar da ponte para o rio. E as coisas mudaram.

Dramaticamente agravado pela morte de Mary Jo, o acidente colocou o projeto presidencial na rota do naufrágio. Mas o sonho não morreu no rio. Foi assassinado em terra pelo próprio Ted, que nadara rumo à salvação ao perceber que não conseguiria libertar a secretária das ferragens.

O senador só reapareceu depois de um sumiço de oito horas - para contar que não se recordava do que fizera, ou deixara de fazer, ao alcançar a margem do rio. Não sabia em que portas batera à caça de ajuda. Não sabia por que deixara de avisar a polícia. Não sabia sequer onde se abrigara.

A Casa Branca já hospedou figuras que seriam barradas num baile de bordel. Beberrões inconvenientes, priápicos ferozes, malucos de carteirinha - tipos assim sorriem na galeria dos retratos dos ex-presidentes. Mas não há espaço na parede para catatônicos confessos.

Um bom piloto não pode sumir, sobretudo durante a travessia de zonas de turbulência. Os americanos não engolem governantes que se ausentam nas horas difíceis. Os brasileiros são mais tolerantes. Até se divertem com os sumiços do presidente Lula - mais freqüentes, mais demorados e mais bisonhos que o que interrompeu a luminosa trajetória de Ted Kennedy.

Atarantado com a visão do cardume de mensaleiros, Lula permaneceu submerso meses a fio. Assustado com a queda do Boeing da Gol, continua a esconder-se dos parentes das vítimas. Perturbado pela explosão do Airbus da TAM, ficou três dias sumido. Reapareceu na televisão com a expressão confusa de quem circulara pelo espaço sideral a bordo de um teco-teco.

Surpreendido pela indisciplina dos aviões, que se recusaram a decolar e pousar com a pontualidade exigida pelo maior dos presidentes desde as caravelas, emudeceu por seis meses. Recuperada a voz, jurou que não sabia do apagão. Soube por Nelson Jobim e ficou espantado. Quer dizer que Lula logo vai sumir de novo.


Cabôco Perguntadô

O Cabôco quer saber o que ainda espera o Senado para apear da presidência o boiadeiro acidental Renan Calheiros. Os resultados dos Jogos Olímpicos em Pequim? A realização no Brasil da Copa do Mundo de 2014? A próxima passagem do Cometa de Halley? Uma passeata de reses imaginárias na Praça dos Três Poderes? As comemorações do bicentenário de Dercy Gonçalves? Um improviso de Lula em javanês? Ou apenas a recuperação da vergonha na cara, perdida em alguma curva do caminho?

Muito além da imaginação

"A imaginação no poder", apregoavam faixas estendidas nas passeatas de 1968. Quase 40 anos depois, o sonho vem sendo materializado no Pará pela governadora Ana Júlia Carepa. Primeiro, a inventiva petista promoveu a "assessoras especiais" a manicure e a cabeleireira. Neste julho, premiou o funcionalismo estadual com uma semana de deputado: toda sexta-feira virou dia de praia. Ninguém trabalhou. Nem a chefe, que agora examina a idéia de institucionalizar a siesta.

Ana Júlia é muito doida.

Humor a favor

Ao matar a Velhinha de Taubaté, Luis Fernando Verissimo inventou a eutanásia ideológica. Viva, a única brasileira que acreditava no que diz o governo hoje estaria jurando que o apagão acabou no Natal, por ordem de Lula. A ironizar o presidente, o criador preferiu assassinar a simpática anciã.

"Criticar este governo é fazer o jogo dos reacionários", explica. Verissimo é bom companheiro, aplaudem socialistas radicais promovidos a ministros, como Alfredo Nascimento, Geddel Vieira Lima ou Nelson Jobim.

Parceiro de risco

As autoridades policiais brasileiras não devem apenas libertar de imediato os atletas cubanos presos em Copacabana. Também lhes devem um pedido de desculpas. Na ilha caribenha e no Brasil, nada fizeram de errado. Abandono de delegação não é crime. Trocar a ditadura pela liberdade é sinal de sensatez. Não têm documentos em ordem? Que sejam providenciados pelos carcereiros, e sem delongas.

Se o Brasil está querendo afagar Fidel, melhor presenteá-lo com meia dúzia de charutões de Denise Abreu.

Yolhesman Crisbelles

A taça da semana vai para Walter Pomar, figurão da Executiva Nacional do PT, pela tentativa de justificar o ultrajante top-top-top de Marco Aurélio Garcia:

Gestos obscenos não são exóticos para os brasileiros. A gente pode gostar ou não, achar educado ou não. Mas não é uma coisa que fere a cultura.

Garcia, uma boca à espera de um dentista, apreciou a manifestação de solidariedade e achou bonito o palavrório. Mas não entendeu direito o que Pomar quis dizer.

05 / 08 / 2007

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