Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 11, 2007

FERNANDO GABEIRA

Dia e hora

NÃO PENSAVA mais em utilizar esse espaço para falar da crise aérea. Recebi um e-mail encorajador do pai de uma das vítimas da TAM. Em homenagem a essa família, prossigo com algumas propostas, sem nenhuma pretensão de ser o dono da verdade.
É possível marcar dia para a solução da crise? Na minha opinião, sim. Poderíamos determinar algo como o meio de 2008. Nesse época, o Brasil sofrerá uma inspeção regular da Icao. Essa inspeção poderá nos dizer se está tudo bem, onde e como precisamos melhorar.
Até lá, já teríamos dados alguns passos decisivos. É razoável, por exemplo, que o dinheiro pago em taxas aeroportuárias, contidas nas passagens áreas, seja usado na segurança do tráfico. Como o razoável nem sempre se impõe, será preciso uma lei para garanti-lo.
A Aeronáutica tem de resolver o problema dos controladores. Se sargentos não podem ganhar mais, que tal promovê-los dentro de um plano que valorize o mérito? Além disso, por que não fazer como outros países, que licenciam universidades para ministrar o curso de controladores?
Este Saito parece ser um bom homem, mas lento e defensivo. A Aeronáutica foi sempre uma força de gente audaciosa. Outro dia, elogiei o coronel Veloso. A esquerda não gostou: era meio golpista. Veloso desbravou os céus da Amazônia, tornou possível a navegação regular ali. Serra do Cachimbo é uma homenagem a ele. O pouso de emergência do Legacy, depois de atingir a asa do avião da Gol, foi na pista do Cachimbo.
É preciso afirmar que não se voará mais no Brasil com o reverso travado. E que, a partir de agora, é obrigatório o sinal sonoro indicando que os manetes não estão na posição correta. Airbus e TAM podem não gostar. E daí?
É preciso uma boa Anac. Os atuais diretores estão agarrados ao osso. Dizem que sua saída vai desorganizar tudo. Não é verdade. Há gente com boa capacidade técnica abaixo deles.
Agora, vai haver juizado para determinar o direito dos usuários, sobretudo indenização, em caso de atraso. O mais importante é a informação. Com tantos comunicadores no Brasil, como explicar esse colapso?
Segundo John Gray, Thatcher quis reduzir o papel do Estado e acabou tornando-o mais intruso. Lula quis ampliar o papel do Estado e acabou tornando-o mais ausente. A história é cheia de pequenas armadilhas. Nelson Rodrigues dizia que temos nos esforçado, ao longo dos séculos, para manter o país subdesenvolvido. Que tal perdermos este zelo?


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