Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 11, 2007

Famílias dos atletas foram ameaçadas, acusa agência


Jamil Chade


A Arena Box Promotion, agência alemã que teria tentado levar os boxeadores cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara do Brasil para atuar na Europa, criticou ontem o governo brasileiro e assegurou que os dois só aceitaram voltar para seu país porque o governo de Cuba ameaçou suas famílias.

"Os passaportes de alguns membros das famílias dos atletas foram levados, os carros foram tirados de seu poder e ainda alguns chegaram a ficar algumas horas detidos", afirmou o porta-voz da agência, Malte Muller-Michaelis, ao Estado. "Ao ouvirem isso, ainda no Rio, os atletas mudaram de idéia e decidiram voltar para Cuba. Mas sabiam que suas carreiras estavam acabadas. Nunca mais os dois serão boxeadores."

Muller-Michaelis disse que Rigondeaux e Lara já tinham assinado um contrato nos Jogos Olímpicos de Atenas. "O público precisa saber que eles já haviam assinado um contrato e usariam a primeira oportunidade que teriam para escapar. E isso finalmente surgiu no Rio."

Segundo ele, foram os atletas que ligaram para a agência. "Os cubanos deixaram a Vila Olímpica e nos ligaram", disse. "No Rio assinaram um novo acordo conosco e estávamos apenas esperando que os vistos de trabalho na Alemanha pudessem ser preparados para que se tornassem lutadores profissionais."

Sobre o governo brasileiro, a agência de promoção de lutas não poupa críticas. "O Brasil terá de se explicar e precisa ser questionado", atacou Muller-Michaelis. "O governo diz que não os deportou e ofereceu asilo. Mas é a versão oficial. Depois que os atletas foram presos não conseguimos mais entrar em contato e não sabemos o que foi de fato dito. O que nos disseram é que eles não queriam mais falar conosco, mas não sabemos sequer se isso é verdade."

O porta-voz disse que o avião que levou os lutadores de volta a Cuba foi pago pelo governo de Havana. "Eles queriam se tornar profissionais. Mas entre gerar sofrimento a suas famílias que estavam em Cuba e abandonar a carreira, preferiram proteger seus familiares."



''''Quiseram voltar'''', afirma Tarso

Elder Ogliari


O ministro da Justiça, Tarso Genro, disse que vai confirmar à Comissão de Relações Exteriores do Senado, em data a ser agendada, que os boxeadores cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara voltaram a Havana porque quiseram. "É isso o que ocorreu e é essa explicação que eu vou dar, mostrando toda a documentação", afirmou ele em Porto Alegre.

Para Tarso, uma parte da imprensa brasileira insiste em tratar o tema como deportação porque gostaria de usar a retenção dos esportistas no País como propaganda contra Cuba. "Talvez preferissem que praticássemos um seqüestro, mas não vão levar", avisou. "Os que foram queriam ir, os que ficaram queriam ficar, mas parece que isso não entra na cabeça de alguns jornalistas e críticos do governo."

Pugilistas ficaram a maior parte do tempo com alemão

Antes de obter credencial, jornalista que acompanhou cubanos foi investigado pela Secretaria de Segurança

Márcia Vieira

T

A Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) desencadeou ampla operação para localizar os cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara quando foi alertada, no dia 20 de julho, pelo Comitê Organizador dos Jogos Pan-Americanos, de que eles tinham desaparecido da Vila Olímpica. A Polícia Federal descobriu logo que eles circulavam com o jornalista alemão Thomas Doering.

As fotos dos cubanos e do alemão foram distribuídas então para os batalhões da Polícia Militar do Rio, para a Polícia Rodoviária Federal e para os postos da PF nos aeroportos. Os cubanos foram encontrados em Araruama, na Região dos Lagos, no Rio. Doering só foi localizado ao embarcar para a Alemanha.

Segundo reportagem publicada pelo jornal Extra, a maior parte do tempo em que os cubanos estiveram longe da Vila eles ficaram com Doering e um olheiro cubano, Alexis Madrigal Ramirez, que mora na Alemanha. O grupo passou pela Pousada Pedras Brancas, em Niterói, e depois teriam ido de táxi a festas em motéis e restaurantes. No dia 30 de julho, assustados com a repercussão do caso, foram para Araruama. Antes, porém, teriam dado entrada com pedido de passaporte internacional no consulado alemão no Rio. Em razão da demora da documentação, os aliciadores resolveram abandoná-los.

O consulado alemão não quis comentar. Uma funcionária se limitou a dizer ontem que "as autoridades brasileiras é que têm que dar informações".

A aventura dos cubanos teria terminado após uma noitada com duas prostitutas na Estalagem do Pirata, em Araruama. Às 9h do dia 2, as mulheres foram embora. Às 15h, segundo a reportagem, os boxeadores foram até a Praia do Vargas e pediram ajuda a um guarda-vidas, Ubiratan de Carvalho, que estava com um pescador, Vander Moura Fonseca.

Segundo o pescador, Lara mostrou o celular e disse: "polícia, polícia". Vander contou ao Extra que os atletas pediram para voltar para Cuba e que eles cumprimentaram os agentes com apertos de mão e abraços. Foram levados na patrulha, sem algemas. Três dias depois eles embarcaram para Cuba num jato executivo da Gestair, prefixo JV 2053, fretado pelo consulado de Cuba em São Paulo.

O ALEMÃO

Antes de conseguir a credencial de jornalista para cobrir o Pan do Rio, Thomas Doering foi investigado pela Senasp. O Comitê Organizador do Pan enviou seus documentos junto com os de 70 mil pessoas que trabalhariam nos jogos. A Polícia Federal e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) ficaram encarregadas de checar se essas pessoas tinham antecedentes criminais. Doering se apresentou como jornalista e, provavelmente, preencheu o extenso cadastro exigido para se credenciar.

A credencial permitia que ele circulasse pela Vila do Pan, onde os atletas estavam alojados, e pelos locais de competição. Ele se apresentou como jornalista da ZDF, rede de televisão pública na Alemanha com sede em Mainz, próxima a Frankfurt. No depoimento que deu à PF, quando foi abordado já no vôo da Air France de volta à Europa, Doering disse que era repórter freelancer da SAT 1, emissora privada.

Em Berlim, a SAT 1 confirmou a existência de um funcionário chamado Thomas Doering, um nome muito popular na Alemanha, mas não quis informar se ele tinha vindo ao Brasil para os Jogos Pan-Americanos. No Rio, o escritório da ZDF para a América do Sul garantiu que não pediu nenhuma credencial para qualquer jornalista com esse nome.


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