Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 11, 2007

Cubanos O Brasil quebra tradição humanista e entrega boxeadores

De volta à prisão

O governo poderia se perguntar: por que Cuba
não tem pescadores nem velejadores oceânicos?


Ronaldo Soares

Adalberto Roque/AFP
Rigondeaux: ameaças à família e ajuda da PF não o deixaram esquivar-se de Fidel


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A repatriação dos boxeadores de Cuba Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, no dia 4, contraria uma tradição cara à diplomacia brasileira. O país sempre se notabilizou pela imparcialidade nas questões internacionais e pela disposição de ajuda aos refugiados. Isso foi desconsiderado quando a Polícia Federal, em menos de 48 horas, os colocou a bordo de um avião de volta a um país onde os direitos civis dependem do humor do ditador e onde dissidentes são presos e fuzilados por tentar escapar do país. Premidos por ameaças aos direitos e à segurança de suas famílias, eles não tiveram outra saída senão desistir de lutar por sua liberdade. Jovens que vivem sob regime ditatorial, e com as dificuldades de quem não domina o idioma, tendem a se intimidar quando se vêem diante de agentes de um governo que mantém relações mais que diplomáticas com Cuba. Não houve tempo sequer para que entidades de direitos humanos pudessem oferecer-lhes ajuda. A Ordem dos Advogados do Brasil e o Ministério Público Federal, que estavam acompanhado o caso, não foram avisados da repatriação. Disse a VEJA o procurador federal Leonardo Costa: "Fomos surpreendidos com a rapidez do desfecho. Foi desastroso".

Reuters
Fidel, o capataz decrépito: Cuba não passa de uma fazenda dele

Era evidente que os atletas pretendiam escapar da ditadura cubana. Eles se desligaram da delegação antes de disputar sequer uma luta dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. "O fato de terem abandonado a delegação era um sinal objetivo de que queriam asilo político", diz José Miguel Vivanco, da ONG Human Rights Watch. Em todos os jornais e revistas, reportagens mostravam com clareza que já havia um acerto entre os boxeadores e a academia Arena Box Promotion, de Hamburgo, na Alemanha. "Tratou-se como caso de polícia uma questão que evidentemente era diplomática", afirma o deputado federal Fernando Gabeira. O Itamaraty não foi acionado. Para o ex-ministro brasileiro das Relações Exteriores Luiz Felipe Lampréia, o ato do governo foi "vergonhoso". A diplomacia perdeu. Mas a perda maior terá sido sempre a dos dois atletas cubanos. No mundo do boxe, as possibilidades de melhorar de vida para quem ostenta duas medalhas olímpicas e um campeonato mundial são muito boas. Nada mais natural do que buscar a melhoria material. Fosse Cuba um país, e não uma fazenda dirigida por um capataz decrépito e ditatorial, os pugilistas cubanos poderiam também usar o talento para melhorar sua vida e a de sua família. Antes de repatriarem os atletas de Cuba, as autoridades brasileiras deveriam ter parado para pensar e responder a uma única pergunta: por que Cuba não tem iatistas nem pescadores oceânicos? Se pudessem responder, saberiam que estavam devolvendo a dupla de pugilistas a uma prisão.

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