Entrevista:O Estado inteligente

domingo, agosto 19, 2007

CLÓVIS ROSSI

Quando o absurdo vira verdade

SÃO PAULO - O Brasil é um país tão absurdo que até o absurdo pode rapidamente virar verdade.
O que parecia absurdo há um mês era dizer que o acidente com o avião da TAM fora um assassinato. Não havia elementos que dessem sustentação a essa afirmação.
Agora há. Texto de Leila Suwwan, publicado ontem pela Folha, mostra que a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) promoveu um trambique, perante a Justiça, ao dizer que era lei o que não passava de documento interno.
Diz a repórter: "O documento, que não tem validade legal, proíbe o pouso de aviões com um reversor inoperante em pistas molhadas.
Caso estivesse em vigor, teria impedido o acidente do vôo 3054 da TAM, já que a aeronave estava com o reversor direito inoperante, e a pista de Congonhas estava molhada no dia". Mais claro impossível.
Fica até difícil acreditar que uma agência governamental encaminhe à Justiça um estudo interno e diga que é lei. A Justiça Federal analisava naquele momento (fevereiro) a possibilidade de impor restrições (que as empresas vetavam) às operações em Congonhas.
Se tamanha fraude, com o conseqüente assassinato de 199 pessoas, não é causa suficiente para afastar toda a diretoria da Anac, então está se oficializando a impunidade, que já é suficientemente avassaladora para dispensar tal barbaridade.
Mas a Anac não é a única criminosa na história. A TAM só agora proibiu o pouso de seus aviões com reverso travado em dias de chuva em Congonhas. Logo, fez roleta-russa com seus passageiros. No dia 17 de julho, havia bala na agulha e 199 foram mortos por ela.
E ainda há a Infraero: testemunhos de pilotos à polícia relatam que a pista de Congonhas, pós-reforma, virou "um sabonete". Não é crime fazer reforma de pista para dar segurança a ela e entregar um "sabonete"?

crossi@uol.com.br

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