Ontem, os principais bancos centrais voltaram a bombear vitamina. Em nenhum momento faltou socorro oficial. Tanto o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) quanto o Banco Central Europeu (que atende à zona do euro) avisaram que os interessados teriam o quanto fosse preciso. Como garantia, o Fed aceitou até títulos lastreados em hipotecas, o coração do atual problema de crédito. O Banco do Japão (BoJ) e o Banco de Reserva da Austrália também despejaram liquidez para enfrentar a secura.
No entanto, o mercado se manteve arredio ao risco, bateu nas ações, nas commodities e a tudo quanto lhes parecesse carregado de incerteza. E essa resposta aconteceu provavelmente também porque, na percepção geral, essas excepcionalidades proporcionadas pelos bancos centrais só ocorrem em tempos de crise.
De tudo quanto se viu nestes dias, dá para extrair algumas conclusões, ainda que precárias. A primeira delas é a de que ainda não se vêem problemas graves nem no setor produtivo nem nas instituições financeiras.
A economia mundial promete excelente desempenho. Há duas semanas, o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou crescimento do PIB global de 5,2% tanto neste ano como no próximo. As grandes corporações, responsáveis por esse desempenho, vêm apresentando resultados bons e estão apostando nas projeções do FMI. E a Organização Mundial do Comércio espera aumento do comércio mundial próximo dos 10%. Mas as crises do capitalismo sempre vêm acompanhadas de recessão (ou até depressão), desemprego, falências e queda do comércio exterior.
O que os mercados parecem temer é que o estancamento do crédito paralise o sistema produtivo e, de repente, desmorone esse castelo de belas projeções oficiais e privadas. Mas a pronta e abundante provisão de créditos de última instância oferecida pelos bancos centrais é um poderoso contraponto a esses temores. Por que então se portam como se chegasse a hora do sétimo selo?
Também não há notícias de instituições financeiras em situação difícil. O que existem são fundos de hedge e fundos de investimento incapacitados momentaneamente de honrar retiradas - alguns por impossibilidade de definir o valor dos ativos em carteira, como foi apontado quinta-feira em três dos fundos do BNP Paribas, o maior banco da França.
É verdade que crises sistêmicas nem sempre dão aviso prévio. No entanto, a firme disposição dos bancos centrais de avançar todo o socorro que lhes for solicitado parece afastar a hipótese de que piores dias sobrevirão.
Houve momentos na semana passada em que os passageiros da aeronave global temeram que os pilotos não fossem capazes de encontrar a pista de pouso no meio de nevoeiro tão cerrado. Agora, parecem mais confiantes, embora não saibam onde isso vai parar. Mas admitamos, ninguém sabe. É esperar para ver.