Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, agosto 10, 2007

CLÓVIS ROSSI

Pernas e bolsos

SÃO PAULO - Simpatizo imensamente com a idéia do ministro Nelson Jobim de aumentar o "espaço vital" nos aviões. Se ele, um baixinho de 1,90m, tem dificuldades para acomodar-se, imagine eu, com oito centímetros a mais. Simpatia à parte, sou obrigado a reconhecer que a tese do ministro é inaplicável. O Ministério da Defesa não tem como meter-se na configuração dos aviões. Aliás, como já mostrou Janio de Freitas nesta mesma Folha, não deveria nem meter-se com a aviação comercial.
Não é sua praia (ou o seu céu).
Se o ministro quiser mais espaço para sua pernas, conviria entender melhor como se chegou à redução do "espaço vital", fenômeno que não é só brasileiro, diga-se. Com a desregulamentação dos céus, foram sendo criadas companhias aéreas de baixo custo, que oferecem preços baixos em troca de conforto igualmente baixo (até para quem tem bem menos de 1,90 m).
As companhias tradicionais tiveram que correr atrás, o que, entre outros tópicos, significou reduzir os espaços internos para acomodar mais gente e, por extensão, vender mais e lucrar mais.
Não há, portanto, muito o que o governo (qualquer governo) possa fazer para aumentar o "espaço vital". A não ser, eventualmente (e friso o eventualmente), fomentar o aumento da concorrência.
No momento, a única maneira de fazê-lo rapidamente seria aceitar que empresas estrangeiras ampliassem o tipo de operações que fazem do ou para o Brasil.
Hoje, a Lufthansa, alemã, só pode voar São Paulo/Frankfurt (ou Munique). De repente, diversificar suas opções ofereceria alternativas aos passageiros.
Nem sei se interessa às empresas estrangeiras. Mas a graça do capitalismo está justamente na competição. Só ela permite uma oferta ampla e diversificada de preços e confortos para todos os bolsos e para todas as pernas.


crossi@uol.com.br

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