BRASÍLIA - Seria um enorme exagero dizer que os cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara são a Olga dos nossos dias, porque ela morreu sob Hitler e eles provavelmente não vão morrer sob Fidel. Mas que não vão ter vida fácil em Cuba, lá isso não vão. E o Brasil sabia muitíssimo bem disso.
Então, por que a pressa e a eficiência para procurar, encontrar e despachar os dois campeões para os braços -ou as garras- da ditadura cubana? Num país como o Brasil, em que milhares de criminosos andam por aí à solta, em que milhões de imigrantes não têm documentos, em que as polícias têm mais o que fazer, é de estranhar por que, em menos de 15 dias, os dois já haviam sido localizados e estavam de volta a Havana.
A reação do Itamaraty à deportação, ou seja lá que nome tenha, foi sintomática. Celso Amorim lavou as mãos: a diplomacia não tem nada a ver com isso. E os diplomatas não param de jurar que não viram, não ouviram e não falaram sobre os cubanos. Leia-se: a questão é política, coisa do Planalto e da Justiça. A explicação formal é simples.
Estrangeiros que pedem asilo a uma embaixada brasileira são da alçada do Itamaraty, e os que pedem refúgio dentro do Brasil são do Ministério da Justiça. Mas, convenhamos, não se trata um simples caso de asilo ou refúgio. E os dois acabaram sendo um caso de polícia. Uma polícia que aceitou com muita facilidade a versão do "arrependimento". Rigondeaux e Lara foram despachados ""a pedido", como nas demissões em Brasília, e sem investigação, sem processo, sem julgamento. Nenhuma entidade de direitos humanos foi ouvida.
Em sendo muy amigo de Fidel, fica parecendo que o governo do PT cedeu à pressão e entregou os cubanos à própria sorte -ou azar. Se viessem de outra ditadura, "à direita", talvez tivessem sido acolhidos como refugiados. Aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei. Ou nem isso.
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