Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 22, 2007

Doha se enfraquece com deserções


Alberto Tamer*

Mais um que deixa a Rodada Doha em segundo plano e se volta para os acordos bilaterais. É o Japão ciumento, que afirma estar preocupado com o acordo entre os Estados Unidos e a Coréia do Sul. Seu ministro de Economia declarou nesta semana que “nós não podemos ficar atrás da Coréia do Sul. Estamos preocupados”.

E o conselho econômico do primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, recomendou que se iniciem estudos para um acordo com os Estados Unidos , seu principal parceiro (US$ 55 bilhões, só em veículos), afim de não perder espaço para outros países industrializados da região.

Doha? Ah, Doha...

Bem, disse outro dia uma autoridade japonesa, nós somos o maior importador mundial de alimentos e não fomos ouvidos. Portanto...

Os agricultores japoneses também não querem acordo nenhum, pois na estreiteza de suas terras, estão protegidos por tarifas de até mais de 700%.

Portanto, também não contemos com o Japão como agora não podemos contar com a China - que protestou na quinta-feira - nem com os Estados Unidos, nem com a União Européia. Só nos resta fazer o que eles estão fazendo. Buscar resultados.

CORÉIA DO SUL, TARIFA ZERO!

A União Européia deu agora um passo surpreendente. Propôs aos sul-coreanos redução total de todas as tarifas, tarifa zero, no comércio bilateral.

É uma proposta inusitada,pouco viável, certo. Mas serve para mostrar o quanto eles estão empenhados para chegar a um acordo bilateral. Com o Brasil, brigam por ninharias. Com eles, oferecem tudo. O próximo passo já anunciado será a Índia.

Enquanto isso, o Mercosul fica de fora. Para consolar, a comunidade européia nos honrou ao declarar o bloco como “parceiro estratégico”.

Sim, obrigado, mas para quê mesmo?

DOHA, SIM, POR QUE NÃO...

Sei que eles poderão sempre continuar negociando em Genebra, mas o fazem agora sem o empenho dos que não têm pressa. Enquanto conversam, fecham acordos e buscam parceiros mais importantes. Não esperam nada de Doha. Aliás, ninguém espera. Só nós.

Pelo menos é o que, na prática, parece. Endurecemos corajosamente em Genebra, mas ficamos nas verbalidades. Não temos ainda qualquer negociação bilateral mais séria, além do blá-blá-blá sonolento com os europeus.

SOMOS MENOS QUE A CORÉIA...

A nova política européia tem sentido. Estão certos, pensam neles e aplicam a diplomacia de resultados abandonando as inúteis acrobacias verbais. Inspiram-se nas estatísticas da Organização Mundial do Comércio (OMC). Os números mostram que o comércio bilateral da Europa com Coréia do Sul é de US$ 80 bilhões. O nosso com os europeus, apenas US$ 51 bilhões. E com os coreanos? Estão sentados? US$ 4 bilhões! A Coréia do Sul é o quarto maior parceiro da Europa e nós somos o nono, mas a grande distância.

Sei que eles não têm, como nós, o atrativo de um grande mercado consumidor em potencial. Mas, como a China, são vorazes importadores de matéria- prima e componentes para produtos industriais, que exportam. É isso que atrai os Estados Unidos e a Europa.

E NÓS? FICAMOS PARA TRÁS

A verdade é que não sabemos explorar nosso potencial comercial e ficamos satisfeitíssimos se exportarmos, US$ 150 bilhões, uma ninharia num mercado mundial de mais de US$ 10 trilhões. De acordo com dados oficiais do Ministério do Desenvolvimento, em 2006 exportamos para a Coréia do Sul apenas o equivalente a US$ 1,9 bilhão e importamos US$ 3,1 bilhão.Temos déficit.

Mas a Coréia do Sul não é tudo. Temos a Ásia! Errado. Não temos. Em 2006, o comércio bilateral com todos os países asiáticos ficou em apenas US$ 24 bilhões em números redondos, menos que com os Estados Unidos. Concluindo, somos um parceiro marginal para os Estados Unidos, para a Europa e para a Ásia também. Não sobra muito. Temos uma economia ainda fechada, como parceiros comerciais, não somos importantes para o mundo. Entrem no site do ministério. br e vocês ficarão convencidos disso.

Tudo se resume a uma frase: a Europa, os Estados Unidos e, agora, o Japão deixaram de lado os acordos multilaterais da OMC e avançam para concluir os bilaterais, relegando para segundo plano aqueles que, como nós, importam pouco e exportam poucos. Só nos resta seguir o mesmo caminho. Vamos continuar batendo papo em Genebra. Mas ao mesmo tempo devemos iniciar imediatamente conversações bilaterais, com ou sem esse Mercosul capenga que precisa ser totalmente reformulado.

Mas, por favor, sem a Venezuela que só quer atrapalhar, tentando ressuscitar a “revolução” cubana de Fidel Castro, o grande timoneiro do atraso e do passado.

*E-mail: at@attglobal.net

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