Entrevista:O Estado inteligente
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domingo, julho 22, 2007
Ruim com a China, pior sem a China
Pequim faz pequenos gestos de ajuste, mas se recusa a valorizar o yuan
LUIZ FELIPE LAMPREIA
A vertigem que é a China (este, sim, é o espetáculo do crescimento, que nos tinha sido prometido aqui no Brasil numa famosa bravata de alguns anos atrás), coloca um difícil dilema para o mundo inteiro: ruim com ela, pior sem ela? Desde os tempos revolucionários do capitalismo no século XIX não se via uma performance tão espetacular.
A China cresce, desde a chegada ao poder de Deng Xiaoping em 1979, ao ritmo frenético mínimo de 9% por ano. Em diversos períodos, o ritmo chega a 11% e assusta os governantes pelo aquecimento excessivo, mas a economia chinesa não perde o fôlego, como acontece como as demais mortais. Investigar o porquê deste fenômeno é assunto complexo que deixo para outros mais credenciados do que eu. Meu foco, neste breve artigo, é mais limitado: a explosão de riqueza gerada pela China e suas conseqüências para todos os países e todos os habitantes do nosso planeta Terra. Em outras palavras, como a China poderá dar uma contribuição, à altura de suas responsabilidades, para o esforço internacional de combate ao efeito estufa e suas graves conseqüências para a Humanidade.
De todas as partes nos chegam relatos dramáticos sobre as tensões que a explosão de riqueza coloca sobre a água, as minas, as terras agricultáveis, a zona litorânea desse país. Há filmes como “Em busca da vida”, do jovem diretor Jia Zhang-Ke, sobre os deslocamentos provocados pela construção da hidrelétrica de Três Gargantas. Há cenas que vemos na mídia sobre menores seqüestrados para trabalhar em olarias, sobre mineiros de carvão transformados em mortos-vivos e sobre enchentes catastróficas.
Um estudo muito recente divulgado pelo Departamento Nacional de Administração da Proteção Ambiental da China (Sepa — State Environment Protection Administration, em inglês) concluiu que seis em cada dez cidades chinesas sofrem pesadamente com a poluição do ar, ou, em outros termos, a qualidade do ar é boa em apenas 37,6% das cidades chinesas. Há, enfim, múltiplas evidências de que o preço do espetáculo do crescimento vai se tornando muito elevado.
Mas, como disse recentemente um arguto observador brasileiro, do seu posto em Pequim: “A liderança chinesa parece ter se convencido de que a deterioração dos indicadores sociais e do meio ambiente constituem gargalos à própria continuidade do crescimento econômico.
Essa nova ênfase tem sido apresentada pela liderança chinesa como a construção de uma ‘sociedade harmoniosa’.” Fato novo também é o surgimento de uma classe média, antes dócil seguidora do Partido Comunista, mas que hoje não hesita em expressar suas inquietudes, críticas e reivindicações, mesmo que sejam apenas pela internet ou em círculos restritos. Os dirigentes da China — que estão entre os mais esclarecidos e inteligentes do mundo globalizado — vão se dando conta de que não é mais possível ignorar as pressões de todos os tipos para que seu país contribua mais ativamente para sustar a deterioração do meio ambiente e para o combate pela redução das emissões de CO2.
Ora, a China já é, junto com os Estados Unidos, a maior responsável pela emissão destes gases de efeito estufa e deve ocupar o primeiro lugar indiscutível dentro em breve. O seu crescente uso de carvão sem maiores restrições ambientais — e, portanto, sem controle sobre a poluição — projeta hoje uma forte sombra na luta contra o aquecimento global e impacta todos os países do mundo, e não apenas os da Ásia.
Vai começar em breve uma das negociações internacionais mais cruciais de nosso tempo. No mês de dezembro em Bali, Indonésia, haverá a primeira rodada de um processo que deve levar, em alguns anos, a um tratado internacional para o combate global contra as perigosas mudanças climáticas que a Ciência já definiu, com boa margem de segurança, como a maior ameaça atual à vida em nosso planeta.
Sem a participação de Pequim, não há como pensar no equacionamento desses desafios globais para a sustentabilidade do desenvolvimento econômico. Por enquanto, a China se esconde atrás da cômoda posição de acusar os países que a precederam no processo intenso de industrialização por todos os males que hoje constatamos ao meio ambiente planetário. Afirmam também os porta-vozes chineses que o crescimento econômico é o seu primeiro objetivo estratégico, ainda que resulte em sérias conseqüências para seus vizinhos e para todos os países do mundo.
Há, portanto, um risco real de que o principal responsável atual pelas emissões de gases poluentes se exclua do esforço internacional de redução da ameaça e contenção de danos.
É, sem dúvida, muito forte o argumento da necessidade imperativa de superar, através do crescimento econômico, o imenso desequilíbrio social que perpassa a bilionária sociedade chinesa.
Pode acontecer este perigoso cenário? Sem dúvida. A China não pode ser constrangida a tomar posições que sejam internacionalmente corretas mas não se coadunem com a sua própria visão de seus interesses básicos.
É o caso da sua política cambial, que leva a uma moeda subvalorizada e, por isso, a clamores de práticas comerciais falseadas.
Até aqui, as autoridades de Pequim fazem pequenos gestos de ajuste, mas se recusam a revalorizar o yuan. Muito pragmático, o governo chinês só fará o que julgar mais oportuno em suas considerações internas e só admitirá seguir o fluxo internacional se julgar que é de seu interesse, como foi o caso da adesão à OMC.
Nesse caso, o país teve que adotar difíceis compromissos de abertura e de modificação de regras econômicas, mas considerou que os benefícios superavam o preço a pagar e subscreveu os acordos internacionais de comércio.
No caso do acordo pós-Quioto, será fundamental que adiram os demais grandes poluidores — os países da União Européia, a Índia, o Brasil e, sobretudo, em primeiríssimo lugar, os Estados Unidos. A margem de consenso internacional precisará ser muito elevada para que os recalcitrantes, a começar pelos campeões mundiais da poluição (China e Estados Unidos), vejam-se obrigados a contribuir de modo pró-ativo para o sucesso das negociações com a aprovação de um tratado internacional realmente significativo.
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