Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, julho 31, 2007

Clóvis Rossi - Muito além da Anac



Folha de S. Paulo
31/7/2007

Que a Anac (Agência Nacional da Aviação Civil) é um completo fiasco já não há dúvidas. Mas que trocar seus membros vá resolver o caos aéreo é outra dessas lendas a que o brasileiro se afeiçoa regularmente. O buraco é mais em cima, maior e mais antigo. Trata-se do desmanche do Estado brasileiro.
Ou, para os radicais, de um Estado que jamais chegou a ser efetivamente criado. Comecemos pelo Senado. Fernando Rodrigues, com a competência habitual, já mostrou que a sabatina dos indicados para a Anac foi apenas um piquenique entre amigos. Por quê? Porque os senadores "aparelharam" o Senado para servir a seus interesses político-eleitorais (em alguns casos, seus negócios).
Não para preparar os senadores para, por exemplo, sabatinar os indicados para as agências reguladoras. Passemos ao Executivo. Há um tal Conac, Conselho de Aviação Civil, "órgão de assessoramento do presidente da República para a formulação da política nacional de aviação civil". Compõem o Conac sete ministros (Defesa, Relações Exteriores, Fazenda, Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Turismo, Casa Civil). Mais o comandante da Aeronáutica.
Muito bem. Durante dez meses, o caos aéreo desfilou para telas de todos os telejornais, de manhã, de tarde e à noite. Que assessoria prestaram os sete ministros e o comandante da Aeronáutica? Um deles, um que fosse, teve alguma idéia, umazinha que fosse, para enfrentar o problema? Fica evidente que não foi só "falta de comando", como apontou o próprio presidente, auto-inculpando-se sem o saber. Foi também falta de comandados que pensassem, inclusive a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, apesar de ser tida como eficaz gerente.
Fico só nesse exemplo, mas todo mundo sabe que há uns 500 outros que mostram que o Estado brasileiro serve para dar expediente mas não para resolver problemas.

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