A bruxa na cabeça
AO VOLTAR , descubro que é difícil escrever sobre o Brasil. Tão difícil como escrever legenda de foto muito expressiva. Ela fala por si própria. No entanto, há algo no ar além dos poucos aviões de carreira. É uma sensação de que o governo, diante da crise, deixou de fazer sentido, deixou de dizer coisa com coisa. As pessoas não acreditam ainda no que estão ouvindo. É um pouco como a avó da gente, que fala hoje uma frase meio sem sentido, passa um bom tempo reagindo com lucidez e, de repente, afirma que viu um cavalo alado na cozinha. É o tipo de processo que nos deixa mais inseguros. Quando será a próxima?
A posse do novo ministro da Defesa, já reconhecida pela mídia como um passo à frente, talvez pelo desejo enorme de dar o passo à frente, foi bastante estranha. Em outro lugar do mundo, digamos em outra lógica, um novo ministro teria pelo menos um esboço do que pretende fazer. Teoricamente, nessa minha teoria estrangeira, sua escolha seria o fruto de uma análise de suas características e de suas idéias para arrancar o país da crise.
Em vez de ser uma reflexão sobre novos rumos, a posse versou sobre economia doméstica. O presidente diz que o ministro Pires deveria se aposentar e que o novo ministro Jobim tinha se aposentado muito cedo. Precisava voltar ao trabalho para não ficar em casa, atrapalhando a mulher. Na sua primeira entrevista, o ministro diz que assumiu o cargo a conselho da mulher. Não importa, realmente, se foi a conselho da mulher, da sogra ou de uma cartomante. Importa saber o que pensa fazer e quais são suas credenciais para isto.
Vivemos numa crise há, pelo menos, dez meses. A impressão que dá, por sua primeira entrevista, é a de que não a acompanhou em detalhes. Os cronistas políticos vêem com bons olhos. Todos queremos uma saída da crise. Mas não deixa de ser um culto à onipotência do político supor que apenas as qualidades típicas de um quadro bastam para resolver um problema que demanda técnica e capacidade, até mesmo internacional.
A Suíça em crise contratou uma empresa holandesa para reorganizar seu sistema aéreo. Deu certo. Eles entenderam como um problema de gestão o que se entendeu aqui como um problema de autoridade. O que fazer quando as coisas se precipitam dessa forma? Talvez considerar que a bruxa está solta na sua cabeça e você mesmo deixou de fazer sentido há algum tempo. Nas mãos de um jurista do PMDB, o complexo tráfego aéreo brasileiro vai encontrar o seu destino.
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