Entrando agosto, já se sabe que o ano econômico — pelo menos no que diz respeito à economia real — está garantido e que o ano político está perdido.
O país vai crescer mais, mesmo que haja turbulências externas. O maior risco é o colapso logístico. No mundo, algumas sombras se concentram no horizonte anunciando a crise das hipotecas subprime. A tempestade virá; ouvimos as trovoadas, inclusive na semana que passou.
Antes dela, o país poderia dar uma arrancada.
Algumas coisas travam o avanço; uma delas é a crise política. A deterioração da base parlamentar, a falta de capacidade de articulação, a pauta trancada e, principalmente, a falta de uma agenda de reformas mostram que o governo Lula está bem adiantado na missão de destruir o seu melhor ano. O melhor ano de qualquer governo é sempre o primeiro ano do segundo mandato.
Principalmente quando o presidente está governando para a História, e não pensando na possibilidade de um terceiro mandato.
Mas, na economia, a situação está melhor. O Brasil vai crescer este ano mais que nos anos recentes. O mundo continua crescendo, pelo menos até segunda ordem, e a previsão é de que fechará 2007 com 5,2%. Os livros de história econômica falarão desta época de ouro em que o planeta cresceu por cinco ou mais anos seguidos. Provavelmente, daqui para diante, haverá mais momentos de estresse, mas a maioria dos economistas acredita que a economia mundial ainda continuará crescendo por mais um tempo.
Aqui dentro, o varejo vem ampliando suas vendas pelo efeito combinado de preços baixos e crédito em alta. Há sinais de aumento do investimento: a produção local de bens de capital cresce a 8%; a importação de bens de capital, a 20%. O dólar baixo faz com que este seja um bom momento para a modernização do parque produtivo. A inflação sobe um pouco, mas numa trajetória não preocupante. Os juros estão em queda.
O Banco Central acumula reservas fortemente e, no mercado, diz-se que ele está indo para o patamar de US$ 200 bilhões. Um ponto importante da caminhada será o de US$ 175 bilhões, que já deixará o Brasil com cobertura plena para seu passivo externo público e privado.
Caso o cenário internacional não aumente demais a aversão ao risco, ficará difícil para as agências de rating, depois disso, continuarem adiando novas melhoras na classificação do Brasil. Se o país se tornar investment grade, investidores institucionais estrangeiros serão liberados, pelas normas prudenciais, a fazer negócios maiores aqui. Porém não se pode ignorar que, com a iminente crise das subprime, eles estão com mais medo de tomar risco.
Mas, enquanto a crise não vem, a economia real continua bem. Para aproveitar melhor este momento, a casa precisaria estar arrumada: concessões agilizadas para investimento em infraestrutura, PPPs saindo do papel, oportunidades postas para o investidor.
Este ano, o Brasil pode voltar aos US$ 30 bilhões de investimento estrangeiro. A previsão veio com a divulgação do BC de que o último mês registrou a entrada de US$ 10 bilhões. O número engana, pois US$ 7 bilhões são fusões e aquisições.
Mas, tirando isso, são US$ 3 bilhões num mês, um bom número. Só no auge da privatização o investimento direto chegou a US$ 30 bilhões por ano. Agora, em parte, é compra de ativos, mas também é investimento em aumento da capacidade produtiva. Como o consumo está se mantendo de forma sustentada, empresas começam a pensar em novos investimentos.
Pelos sinais dados pelo Banco Central em seus comunicados, fica claro que ele não entrou na euforia do “admirável mundo novo”, que era percebida no mercado financeiro até a última semana. Há riscos no horizonte, talvez próximos, portanto as chances não estarão sempre postas para o país. Subprime é o risco que ronda o mercado e que tem derrubado bolsas. Referemse aos micos no mercado imobiliário americano: as hipotecas de alto risco. Há os que já estão inadimplentes, outras que estão em fase de retomada do imóvel. Agora, o problema que iniciou nelas começa a chegar ao mercado de crédito em geral.
Erra quem imagina que é um problema que pode ser isolado. Os papéis de devedores duvidosos, e que pagam juros maiores, são reempacotados e vendidos para carteiras de fundos agressivos.
Isso diluiria o risco, dizem alguns analistas. Os mais sensatos completam: mas o risco não desaparece.
O problema é que a economia de hoje criou ligação entre todos os mercados e países. Por exemplo: os hedge funds têm estes papéis e são financiados pelos bancos; assim uma crise neles atinge o sistema de crédito convencional. Isso é que está abatendo o mercado.
Contra as turbulências, o BC monta seu alto e caro colchão de reservas. Ter uma pilha de reservas ajuda na hora de passar por um momento de turbulência, mas, como já sabem até os ideólogos de outros sistemas econômicos, “tudo que é sólido desmancha no ar”.
Se houver crise externa, o risco-Brasil sobe não por razões locais, mas porque os investidores fazem movimentos globais.
O capitalismo sempre se caracterizou por ciclos; não há crescimento que dure para sempre, nem onda de liquidez que não termine num aumento de aversão ao risco.
Há temores de que o efeito redutor da inflação global determinado pelos preços baixos de produtos chineses possa estar no fim.
A hora seria excelente para remover obstáculos, como o gargalo logístico, as barreiras burocráticas, o custo sobre o emprego, a deficiência educacional, a indigência gerencial do governo, afinal já se vêem ao longe os sinais de raios e trovões.
Entrevista:O Estado inteligente
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