27.7.2007
"Assim, trilha um caminho singular, decidido a ficar indeciso, determinado a ser indeterminado, resolutamente engajado a ser irresoluto, partidarista convicto da fluidez, potentemente ancorado na impotência". Discurso proferido por um senador da oposição a respeito do governo Lula, Brasília, junho de 2007.
Vocês ouviram essas palavras? Não? Infelizmente, nem eu... posto que não foram pronunciadas em Brasília, mas em Londres, no dia 11 de novembro de 1936, diante de uma Câmara dos Comuns atordoada com mais um discurso indignado de Winston Churchill contra a lentidão do governo inglês em reconhecer a ameaça latente de uma Alemanha armada até os dentes, e liderada por um alucinado.
Mas são ou não são palavras que poderiam ter sido ditas por um senador brasileiro a respeito do governo Lula e de todo o descalabro de sua administração? O alemão (que era austríaco) alucinado não está a nos ameaçar. O que nos ameaça são outros tipos de alucinação. Ficar malhando apenas o PT e sua coalizão, é injusto e falho de verdade. Todos são culpados. Todos somos culpados: os eleitos e os eleitores, mesmo aqueles que não votam PT, mas que aceitam calados esse estado de coisas.
Segurança, nenhuma, a não ser esta do Pan do Rio, para turista ver; saúde, aquela perfeição que só o Lula percebe; educação, o sistema que melhor deseduca jamais imaginado pelo homem. E os transportes? Não vou chover no molhado, mas se o Lula lá em Brasília acha que vai desempacar o Brasil, sinto muito. Sem estradas seguras, sem portos fluviais e marítimos modernos, bem equipados, e sem ferrovias que transportem passageiros, assim como produtos e mercadorias, o Brasil vai ficar não só empacado, como vai perder o bonde, aliás, outra vítima do 'progressismo' que nos ataca.
Nós já pudemos sair do Rio para Petrópolis de trem; vir de Belo Horizonte para o Rio; ir do Rio para São Paulo; de Pelotas a Porto Alegre. E tantas outras distâncias curtas e longas. No sul, no norte, no nordeste. Mas com aviões, para que trens? Com os bondes aconteceu a mesma coisa: o bonde atrapalhava o trânsito dos automóveis, então, país rico, o que fizemos? Sacrificamos o transporte coletivo, pelo bem do transporte individual.
Não foi só isso que sacrificamos... também arrebentamos com outra herança que nos foi carinhosamente legada: a língua portuguesa. A cada vez que uma autoridade ou até uma caricatura de autoridade abre a boca, a língua portuguesa morre mais um pouco. O verbo agora é 'linkar', pelo menos segundo os digníssimos e condecorados diretores da ANAC. Ela, a Abreu, numa entrevista à FSP, 'linkou' a valer. Ele, o Zuanazzi, riu e 'linkou' muito em seu depoimento anteontem na CPI do Apagão Aéreo.
Mesmo quando não 'linkam', inovam. Em maio, o presidente Lula disse que o choque dos aviões da Gol e do Legacy, não foi um problema dos aeroportos "até porque eles se chocaram no ar". Já agora, depois desse infame desastre, a diretora que fuma puros cubanos, disse o contrário: "Deixa eu te falar uma coisa: o acidente não foi no ar, tá? Então o acidente não tem nada a ver com o número de vôos em Congonhas. Vocês estão confundindo. O sistema aéreo é o sistema aéreo".
Pois é. Assim falaram o presidente da República e a amiga do senhor José Dirceu que ocupa uma das diretorias da ANAC. Já o brigadeiro Saito não é de muitas palavras, mas tem um senso de oportunidade invejável. Fico sem graça de pedir a um homem que cultiva o mutismo que fale, mas ele nos deve uma explicação: quais são os relevantes serviços prestados à Aeronáutica pelos diretores Zuanazzi e Abreu? Nós, os legatários do herói brasileiro e pagadores das medalhas, temos o direito de saber.
Ontem, os jornais, escritos e falados, traziam a notícia da troca de comando na Defesa. Na posse, festa na taba. Risos, piadinhas infelizes, novos assassinatos do português, brincadeirinhas com o ministro que saía, com o ministro que entrava, tudo para descontrair, "para tornar a vida menos sofrível". Tenho certeza que o presidente quis dizer o contrário: mais sofrível...
O novo ministro entra com a corda toda. Cheio de gás. No dia seguinte da festa na taba, na transmissão do comando, não houve nem descontração, nem assassinatos do português. Houve uma mensagem, olhos nos olhos, bastante promissora. Até assustou um pouco, pois o brasileiro se desabituou a ouvir palavras assim firmes. Houve, sobretudo, respeito aos mortos e às famílias, essas sim com o coração sangrando.
A outra notícia do jornal foi a respeito de um gato que desde filhote vive num hospital para idosos nos EUA. Esse gato, de nome Oscar, ninguém sabe explicar porque, se aproxima da cama do paciente que, ele sabe, irá morrer dentro de no máximo quatro horas. Já anunciou a morte de mais de 25 pacientes, com uma exatidão que impressionou os médicos, a ponto de estarem avisando às famílias assim que o gato se instala aos pés de uma cama.
Fiquei impressionadíssima. O que diria esse gato se o trouxéssemos para cá? Diria que estamos no fim? Deitaria aos pés do berço esplêndido deste colosso? Ou o ministro Jobim conseguiria por um guiso no gato e deixar pelo menos os céus do Brasil azuis e lindos novamente? Se ele conseguir essa proeza, habemos candidato para 2010... e uma confusão dos diabos nas hostes adversárias. Haja guiso!