Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 28, 2007

O país acha que é hora de se armar

De volta às armas

Preocupado com os vizinhos, o Japão
passa a reequipar as Forças Armadas


Duda Teixeira

Kimimasa Mayama/Reuters

Soldados japoneses no Iraque: sob o comando dos americanos


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Derrotado na II Guerra, o Japão renunciou a um dos direitos de soberania, o de declarar guerra. Só nos anos 50 o que era então sua força policial ganhou dimensões militares. Ainda assim, com a reveladora denominação de Forças de Autodefesa. O mundo mudou bastante de lá para cá, e os novos desafios também estão mudando o Japão. Os japoneses abandonaram discretamente as restrições que nortearam sua postura militar por décadas e começaram a treinar e se armar para enfrentar uma guerra de verdade. Na ilha americana de Guam, no Oceano Pacífico, pilotos japoneses estão treinando o lançamento de bombas contra objetivos no solo, algo que não acontecia desde a rendição aos Estados Unidos, em 1945. Em janeiro passado, a agência de defesa do Japão foi elevada à condição de ministério. Em maio, o Parlamento aprovou a realização de um referendo daqui a três anos em que os japoneses vão decidir se querem ou não mudar o artigo 9 da Constituição, feita pelos Estados Unidos, que proíbe o uso ofensivo das Forças Armadas. Soldados japoneses já participam de uma primeira missão militar no exterior: desde 2003, o Japão auxilia na logística da ocupação americana no Iraque com aviões, destróieres e navios de combustível.

O Japão é um país atormentado por controvérsias a respeito de seu passado militarista. Na primeira metade do século passado, o exército imperial nipônico foi responsável na China e na Coréia por crimes de guerra cujas dimensões e cujo grau de crueldade só têm equivalência com os da Alemanha nazista. Ao contrário dos alemães, que não perderam oportunidade para pedir desculpas ou tentar reparar os crimes de Adolf Hitler, os japoneses consideram esse assunto tabu e recusam-se a assumir responsabilidades, como exigem a China e a Coréia do Sul. Devido às lembranças ruins, há forte resistência entre os japoneses a iniciativas que pareçam um retorno ao nacionalismo militarista do passado. "O problema é que, ao se equipar com armas de ataque, o país que se apresenta como o paladino do pacifismo entra em contradição com sua própria política externa", disse a VEJA Philip Coyle, que já foi subsecretário de Defesa dos Estados Unidos no governo Bill Clinton.

Vários motivos levam o Japão a se armar. As guerras no Afeganistão e no Iraque deixaram as tropas americanas no limite e suscitaram uma intensa resistência interna a novos conflitos. Desde 1954, os americanos prometeram ajudar a defesa japonesa em troca da autorização para instalar tropas no arquipélago. Mais de 50.000 soldados americanos vivem no Japão. Entre a população nipônica, no entanto, há uma percepção de que os Estados Unidos podem não estar lá quando houver uma emergência. Acrescente-se a isso a insistência com que Washington pede aos japoneses para assumirem papel mais ativo na própria defesa. A relação de forças na Ásia também está mais complexa. Vinte anos atrás, o Japão temia apenas a União Soviética. A China era somente um vizinho miserável e irrelevante. Os soviéticos sumiram do horizonte, mas a China tornou-se uma potência. Os dois países estão estreitamente ligados por laços econômicos, mas persiste a velha disputa por influência na Ásia. Apesar de paupérrima, a Coréia do Norte é uma dor de cabeça real. Desde 1998, o excêntrico ditador Kim Jong-Il testa mísseis cujo alcance é milimetricamente calculado para atingir o arquipélago japonês. Kim Jong-Il também faz alarde de seu programa nuclear, que usa para chantagear os americanos, japoneses e sul-coreanos.

A mudança de comportamento dos japoneses no quesito militarismo pretende deixar uma mensagem clara aos vizinhos. O Japão não quer ser visto como uma presa fácil na Ásia. O aumento do orçamento militar da China também incomoda os japoneses. Nos últimos dez anos, os gastos com armamentos quadruplicaram e passaram os do Japão em 1 bilhão de dólares. O contingente militar japonês é pequeno se comparado ao dos rivais. Seu arsenal não inclui armamentos ofensivos como submarinos ou porta-aviões. Entre os itens da lista de intenção de compra dos militares japoneses, no entanto, aparecem equipamentos como o caça F-22 Raptor, cuja exportação é proibida pelas leis americanas. O avião é capaz de entrar e sair do espaço aéreo inimigo sem ser detectado por radares. Enquanto não alteram sua Carta Magna, os japoneses optam por criar fatos consumados.

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