Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, julho 27, 2007

Celso Ming - Tempo de medo

Celso Ming - Tempo de medo


O Estado de S. Paulo
27/7/2007

Ontem, o medo prevaleceu sobre a confiança e os capitais fugiram para seus buracos. A novidade é que, agora, há pouco buraco para tanto capital em fuga. E isso parece indicar que não será dessa vez que teremos o estouro de outra bolha.

Nada mostrou melhor o que aconteceu ontem do que o baque de 38 pontos no prêmio de risco Brasil. Esse número reflete quanto os investidores estrangeiros pedem para ficar com títulos de dívida do País. Se o prêmio de risco Brasil é de 221 pontos, como ontem, isso significa que a remuneração (yield) paga pelo título brasileiro passou a ser de 2,21% ao ano, acima da remuneração paga pelo T-Note dos Estados Unidos.

A queda do prêmio de Risco Brasil vinha refletindo a melhora da economia brasileira. Ontem refletiu a procura por segurança. Com a corrida aos títulos americanos, considerados os mais seguros, o investidor passou a aceitar remuneração mais baixa. As T-Notes de dez anos, que na véspera retornaram 4,9170% ao ano, ontem, pelo efeito procura, ficaram mais caras. Rebaixaram a remuneração a 4,7844%.

Há meses mantém-se no ar a apreensão sobre a evolução da bolha imobiliária (seria mesmo uma bolha?) dos Estados Unidos. O problema está no segmento de financiamentos hipotecários de alto risco, chamado subprime. Financiamentos a juros baixos vêm sendo fornecidos a tomadores com capacidade duvidosa de pagamento.

Ontem, problemas de falta de cobertura financeira estouraram na Austrália e nos Estados Unidos, refletindo retração dos investidores internacionais para aplicações de risco. Os relatos na internet e na imprensa mostram os casos que detonaram a queda geral das bolsas, a alta do iene e do euro em relação ao dólar e o forte recuo da remuneração (yield) dos títulos do Tesouro dos países ricos.

A questão-chave está em saber se isso é apenas um susto, como tantos que têm acontecido, ou um ajuste mais sério. Ninguém tem como vender certezas e os especialistas se dividem sobre o que virá em seguida.

No cipoal de opiniões, há dois elementos a levar em conta. Primeiro, a persistência de juros muito baixos no mundo. Isso reflete abundância de recursos, o que não vai mudar tão cedo. Além disso, a economia real vai bem: a inflação global é baixa, a produção continua crescendo e o comércio mundial nunca foi tão robusto. Nada de errado há por aí.

O segundo elemento importante é o de que, há alguns anos, os países emergentes estão amontoando reservas. Só a China tem US$ 1,3 trilhão. Essas reservas estão aplicadas em títulos do Tesouro americano. Ou seja, o refúgio tradicional nas horas de aflição não está disponível como antes, porque está nos bancos centrais. Assim, há mais capital amedrontado do que toca para abrigá-lo.

Nesse quadro sem tempestades na economia real e sem refúgios suficientes, parece provável que essa situação de quase-pânico se reverterá em pouco tempo. É esperar para conferir.


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