Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 22, 2007

DANUZA LEÃO

Num restaurante em Paris


Quase tudo que as pessoas fazem na vida tem um único objetivo: encontrar alguém, apenas para não ficarem sós

ERA UM BISTRÔ daqueles simples. Na mesa à minha direita, duas senhoras; feias, com a roupa errada, o penteado errado, e muito felizes, com uma garrafa de vinho na frente. Além de comer muito, no final, ainda dividiram uma torta de maçã com bastante creme.
Eram mulheres sem marido, dava para ver. Elas usavam anéis de ouro -nada de mais- e cada uma tinha nos braços uma ou duas pulseirinhas, também de ouro.
Uma pulseirinha de ouro não custa tão caro, mas não é uma coisa que se olha na vitrine e se compra, como se fosse um nada. Para quem não tem muito dinheiro, como devia ser o caso das duas, se olha, se pensa, e se paga em três vezes. Daí minha curiosidade: Por que as mulheres gostam tanto de uma pulseirinha de ouro? Não dá para entender, e, no fundo, quem tem razão é Rita Lee: as mulheres são todas loucas.
Na mesa em frente, um casal: ele grisalho, entre 50 e 60, em boa forma. Ela meio feia, entre 30 e 40. Durante o jantar, algumas vezes, ele segurou a mão dela, e, às vezes, a olhou dentro dos olhos, como se estivesse - e estava- tentando seduzi-la para ir para a cama com ele. Ele era, visivelmente, casado (com outra, claro). Homens desta idade nunca fazem charme para suas mulheres; jamais.
A noite foi passando; as duas mulheres e o casal não paravam de falar. Franceses falam muito, e em qualquer café, qualquer restaurante, estão sempre falando: discutem o último filme, o ministério de Sarkozy, filosofia, qualquer coisa. Eles têm sempre assunto.
As mulheres pediram mais uma garrafa de vinho, o casal, um conhaque, e só quando o restaurante se esvaziou e já estava quase fechando todos pediram a conta -eu, inclusive- e fomos embora.
O casal entrou num carro; já as mulheres, foram pegar o metrô, ficando de se rever breve. Eu me sentei no terraço de um café, e fiquei pensando na vida daquelas pessoas.
Estava claro que a mulher não queria nada com aquele homem, mas ele continuaria fazendo todos os charmes da terra para subir no apartamento dela. E também estava claro que, para as duas mulheres, aquele jantar havia sido um grande acontecimento, que as livrou de ficarem sozinhas, vendo televisão. Ah, esqueci de dizer que era um sábado, e a noite de sábado é particularmente difícil para a maioria das pessoas, sobretudo para as que trabalham duro a semana inteira, como devia ser o caso delas.
E fiquei pensando em como as pessoas fazem de tudo para não ficarem sós. Que seja com uma amiga, com um homem, de preferência com um grande amor, quase tudo que elas fazem na vida tem um único objetivo: encontrar alguém. Não para, necessariamente, transar, se apaixonar, ter um caso ou terminar casando: apenas para não ficarem sós. Por que são tão raras as pessoas que conseguem? Afinal, nascemos e morremos sós, e nossos pensamentos e nossa imaginação são suficientes para viver várias vidas, mas não: precisamos ter algum contato, seja ele qual for, seja com quem for, de medo da solidão.
Pensando na minha própria, resolvi entrar num cyber café e me ligar na internet para saber o que acontecia no Brasil. Afinal, já estava há três semanas fora, muitas novidades deviam ter acontecido.
Acessei os jornais e, à primeira notícia, tive a impressão de que a internet estava com problemas: Renan Calheiros continuava agarrado na presidência do Senado, e afirmava que dali não sairia.
Fechei o computador, voltei para meu café, e pensei no quanto é bom ficar só.

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