Meninas famosas levam em público a vida de excessos
que antes era uma exclusividade dos rapazes
Aconteceu o que todo mundo previa: Britney Spears, a cantora que surtou, e Lindsay Lohan, a atriz que nunca foi muito normal, aprontaram novamente. E daí? Figuras do mundo artístico encrencadas com álcool e drogas não são novidade. Seja pelas características da profissão, pelo dinheiro farto, pela facilidade de acesso, seja por se acreditar acima do bem e do mal, cada geração de Hollywood – e, por tabela, dos famosos do mundo inteiro – sempre teve sua cota de notórios bad boys. O que o comportamento das Britneys e Lindsays aponta é a existência de um clube novo, o das bad girls – meninas novinhas, ricas, famosas e admiradas que bebem, sim, consomem drogas, sim, farreiam a noite toda, sim, saem dos clubes carregadas, sim, e, se alguém vir, azar. "Não é que tenha surgido de repente um contingente de estrelinhas drogadas, bêbadas e desequilibradas", comenta a escritora feminista Naomi Wolf, tentando explicar o fenômeno. "É que, por motivos complexos, a cultura está se apropriando do registro do comportamento descontrolado delas e colocando esse comportamento – e não seus namoros, suas compras, suas apresentações – no centro do drama." Contribui muito também, acrescenta, o fato de as próprias meninas famosas "exibirem e ressaltarem seu descontrole para aumentar o interesse da mídia".
Britney comprovou isso na tarde quente em que, passando pela praia, tirou a roupa, entrou no mar gelado de calcinha e sutiã e de lá saiu direto para as lentes de um batalhão de paparazzi, os mesmos de quem reclama, tendo chegado a agredir o carro de um deles com um guarda-chuva no dia em que raspou a cabeça... mas isso é outra história. O banho de mar aconteceu dois dias antes do confronto de Britney com a revista OK!, publicação que se desdobra para falar bem de artistas. No relato da constrangida OK!, uma combinadíssima entrevista desandou quando ela 1) chegou atrasada; 2) não falou coisa com coisa; 3) sujou e destruiu parte do guarda-roupa milionário reunido para as fotos; 4) foi repetidas vezes ao banheiro, de onde saía cada vez mais descontrolada; e 5) sem dar entrevista nem fazer fotos, foi embora vestindo 15.000 dólares em roupas, sapatos e jóias emprestadas. Na capa da OK!, a manchete: "Britney desmorona".
Aos 25 anos, Britney tem dois filhos, um ex-marido aproveitador, um guarda-roupa atroz e passagens por clínicas de reabilitação. Por algum tempo foi amicíssima de Paris Hilton, 26 anos, milionária por profissão, que recentemente passou 22 dias na cadeia por dirigir com a carteira apreendida (estava alcoolizada). Paris a deixou, assim como deixou, depois voltou, depois deixou novamente Nicole Richie, 25 anos, consumidora confessa de drogas pesadas, que acaba de saber que vai passar quatro dias na cadeia pelo mesmíssimo motivo da ex-melhor amiga. São, todas elas, mais velhas que Lindsay, 21 anos completados no dia 2 e currículo carregado: passou um ano de clube em clube, alteradíssima, em maio se internou para 45 dias de tratamento, saiu com um detector de álcool afivelado ao tornozelo – e prontamente voltou a beber. Na semana passada, perseguiu um carro de madrugada, foi pega pela polícia e ainda tinha cocaína no bolso da calça.
Não são, nem de longe, as únicas estrelinhas da pá virada. Hayden Panettiere, 17 anos, a cheerleader do seriado Heroes, já foi vista saindo de festas mais para lá do que para cá. Idem Mischa Barton, 21 anos, do extinto seriado The O.C. Na Inglaterra, a vida das cantoras mais comentadas da novíssima leva do rock britânico, Lilly Allen e Amy Winehouse, é, literalmente, um livro aberto. "Ando me embebedando demais porque fico nervosa, com medo de fazer shows ruins", escreveu Lilly, 22 anos, em seu blog durante recente turnê pelos Estados Unidos. "Não estou aqui para ser modelo de ninguém", avisa a magérrima Amy, 23, autora de uma espécie de hino anti-rehab, que já teve "todo tipo de distúrbio alimentar" e, nas próprias palavras, toma champanhe no café-da-manhã e almoça vodca, uísque e licor. Embora apareçam mais, bebam mais e farreiem mais, as celebridades são reflexo de excessos visíveis na vida da maioria das adolescentes. "Houve uma mudança de comportamento. As adolescentes passaram a se socializar como homens e a beber como eles também", constata o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo. "Elas podem passar dias, semanas sem beber. Mas, quando bebem, não param até cair. É um hábito que vão levar para a vida adulta e que vai se refletir nas estatísticas futuras."