Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 29, 2007

Ethevaldo Siqueira Assim são tratadas as nossas agências reguladoras

Ministérios se transformam em moeda de troca, todos os anos. Agências reguladoras são dadas de presente a amigos sem a qualificação mínima. Quase tudo se resolve na base da barganha e do critério político-partidário ou ideológico, em particular quando se trata da escolha de dirigentes dos diversos escalões da administração pública.

Essa degradação, comum a diversos governos, parece chegar ao fundo do poço no governo Lula. As agências reguladoras, criadas e concebidas para funcionar como entidades independentes, técnicas e profissionais - órgãos de Estado e não de governo - têm sido simplesmente loteadas pelo PT e aliados.

Há poucos meses, surgia um primeiro sinal de mudança. Ao escolher Ronaldo Sardenberg para a presidência da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), nos últimos meses, parecia que Lula pretendia mudar os rumos dessa política insana. Já não estou tão certo disso.

Veja agora, leitor, a ridícula e constrangedora situação do presidente da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi - agarrando-se ao cargo do qual não pode ser demitido.

Mas, convenhamos, os que apadrinharam e aprovaram seu nome são muito mais culpados do que ele. Sim, leitor: esse gaúcho foi indicado pelo presidente Lula, com apoio decisivo da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e aprovado pelo Senado. No passado, quem comandava decisões desse tipo era o ministro José Dirceu. Hoje, o colégio de padrinhos se ampliou muito.

A rigor, Zuanazzi apenas não tem desconfiômetro. Está surdo diante do apelo de tantos cidadãos que lhe imploram que renuncie, porque o governo está disposto até a mudar a lei atual para substituí-lo - o que será uma péssima solução, por deformar o caráter das agências.

Tenho a leve impressão de que Lula, Dilma e a maioria dos senadores responsáveis pela homologação de Zuanazzi começam a perceber que não vale a pena levar pessoas incompetentes a cargos de tanta responsabilidade como os de presidente das agências reguladoras.

Reconheçamos, por outro lado, que Zuanazzi é um prodígio de ecletismo e polivalência. Conheci-o em 1991, ocupando a presidência da antiga Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT), estatal gaúcha. Engenheiro mecânico, com pós-graduação em sociologia, foi guindado a cargos públicos nas áreas de telefonia, magistério superior, marketing e turismo. Em aviação civil, sua experiência não foi além de muitas viagens, como simples passageiro. Brizolista, foi perseguido pelo ex-governador gaúcho Alceu Colares, mas elegeu-se vereador em Porto Alegre e se bandeou para o PT, a convite de Olívio Dutra.

INEFICIÊNCIA

O efeito mais sério do compadrio político-partidário no governo é a baixa eficiência da máquina pública. Ninguém saberia dizer o preço que pagamos pela incompetência predominante dos dirigentes deste País. Mas deve ser muito elevado.

Pior ainda: aliado à sucessão de escândalos que o País tem vivido, esse comportamento mediocrizante dos homens públicos tem outra conseqüência terrível: a corrosão contínua da confiança popular na democracia.

O presidente da Anac é, portanto, filho político de Lula, de Dilma e do Senado. Se o presidente escolhesse para a agência e para a Infraero especialistas de renome, talvez a crise aérea já pudesse ter sido superada sem o saldo de mais de 350 mortos.

Nunca na história do Brasil, um presidente teve tantos auxiliares envolvidos em casos de corrupção e/ou de incompetência quanto o presidente Lula. Não vamos perder espaço deste artigo citando as dezenas de nomes cujas cabeças rolaram, desde o esquecido Valdomiro Diniz, passando pelos protagonistas do mensalão até o apagão aéreo de nossos dias.

Na raiz desses escândalos e insucessos administrativos está uma única motivação: o compadrio político-partidário, como critério de escolha dos primeiros escalões de governo.

Vejam o que ocorre agora com a futura Lei das Agências. Apoiado em sua base parlamentar, o governo deverá aprovar uma lei que, além de submeter os órgãos reguladores ao controle direto do Poder Executivo, irá nivelá-los por baixo, não importa se eles cuidem de coisas tão diversas quanto petróleo, telecomunicações, energia elétrica, saúde ou aviação civil. Como bem qualificou Renato Guerreiro, ex-presidente da Anatel, "é algo estúpido".

Esse tipo de política não tem nenhum compromisso com o País. Diferentemente da punição inapelável dos maus gestores nas empresas privadas - nas quais a escolha de funcionários incompetentes conduz à falência - o aparelhamento do Estado não tem trazido aos culpados nenhum castigo direto.

No entanto, inviabiliza o desenvolvimento, o progresso científico-tecnológico, a modernização da sociedade e da justiça social.

A maioria de nossos políticos segue esse velho estilo de fazer política: populista, paroquial, provinciano, personalista e primário.

É essa maioria que nos faz ter vergonha do Brasil de hoje.

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