O Globo |
27/7/2007 |
Com essa disputa entre Cuba e Brasil pelas medalhas de ouro no Pan, e a relação de amor e ódio expressa por palmas à delegação de Cuba e vaias à dos Estados Unidos, na abertura dos jogos, e depois a rixa entre brasileiros e cubanos em vários esportes, que chegou ao cúmulo na disputa de uma das medalhas do judô, com o público vaiando a vitória cubana e brigas entre atletas famosos dos dois países na tribuna de honra, nunca esteve tão em evidência a relação especial entre os dois países. Se por um lado houve a deserção dos boxeadores cubanos, havia nos estádios do Rio quem vestisse camisas com a estampa do Che e cartazes a favor de Cuba. Qual é, afinal, a opinião do povo brasileiro sobre Cuba nos dias de hoje? Recente pesquisa de opinião sobre a percepção sobre Cuba no Brasil, realizada pelo cientista político Silvério Zebral, diretor-executivo do Centro de Estudos Interamericanos (Ceiam), da Universidade Candido Mendes e Geraldo Tadeu Monteiro, diretor do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), tem conclusões interessantes, que mostram uma dissociação entre o que pensam os formadores de opinião - sindicalistas, jornalistas, empresários, líderes políticos -, com posições classificadas de centro-esquerda, e a população em geral, que tem uma posição mais de centro. Mas mostram também uma certa complacência generalizada com relação à situação atual de Cuba. Embora admitam a falta de democracia naquele país, os dois grupos não têm esse fator como prioritário. A visão da população, no entanto, é bem mais crítica com relação a Cuba do que a dos formadores de opinião, embora ambos os segmentos não levem muito em consideração a falta de democracia quando se trata de promover a integração regional. Quer entre formadores de opinião, quer entre a opinião pública, pouco importa se o objeto da relação diplomática é um país que se possa adjetivar de "democrático". O cientista político Silvério Zebral constata que "a cláusula democrática do Mercosul, ou mesmo os instrumentos derivados da Carta Democrática da OEA não estão introjetados nas consciências de nossa elite dirigente - muito menos entre os cidadãos comuns". Essa pesquisa será base de uma publicação conjunta de diversos autores convidados - incluindo comentários do Jorge Dominguez, da Universidade de Harvard, e Carlos Alberto Montaner - a ser lançada nos Estados Unidos, na Europa e na América Latina. Essa visão "de Cuba desde o Brasil" é a primeira fase de um programa de pesquisa mais amplo, denominado "Visões do neopopulismo na América Latina", financiado pelo National Endowment for Democracy (NED) e pela União Européia (UE). A idéia é repetir a pesquisa - com algumas modificações - em outros países, como Bolívia e Venezuela. Mas, segundo Silvério Zebral, essa é decisão a ser validada posteriormente, depois de considerados o grau de relevância e conhecimento dos brasileiros em relação "ao caso mais paradigmático" que é Cuba que, segundo ele, "a bem da verdade, vive uma situação bem mais grave do que aquilo que se circunscreve o chamado neopopulismo". Os resultados finais de parte da pesquisa de percepção comparada sobre "estado da democracia" na América Latina e transição em Cuba mostram diagnósticos interessantes. Quando chamados a opinar sobre as relações políticas e econômicas preferenciais do Brasil no cenário internacional, os formadores de opinião mostraram-se muito mais antiamericanos, simpáticos a relações preferenciais alternativas com a Europa, o Mercosul e a África, inclusive o aprofundamento das relações com Cuba e Venezuela. Já a opinião pública em geral é mais simpática às relações preferenciais com os EUA. Entre os formadores de opinião, o grau de simpatia por Cuba é maior do que o pelo Estados Unidos, embora 78% dos entrevistados nunca tenham estado lá. Quando fazem uma livre associação, os formadores de opinião ligam Cuba a Fidel Castro e ao comunismo, enquanto os cidadãos, além de Fidel, fazem uma associação com a política de saúde e educação. Quando se trata dos Estados Unidos, a associação é a mesma em ambos os grupos: guerra, Bush, arrogância. Entre formadores de opinião, a percepção que prevalece é de uma transição pós-Fidel em Cuba gradual e negociada. Entre o público em geral, a percepção é de uma transição radical e algo conflituosa. Ainda assim, ambos os grupos advogam uma posição neutra por parte do Brasil, que contrasta em parte com a própria percepção desses mesmos grupos no que diz respeito ao protagonismo brasileiro no âmbito regional, que ambos defendem como política de governo. Ambos os grupos consideram que Cuba é tão socialmente justa quantos os Estados Unidos, e mais do que o Brasil. Mas há uma completa divergência entre os formadores de opinião e o público em geral com relação à vida em Cuba: os primeiros consideram que se vive hoje melhor em Cuba do que no Brasil, opinião exatamente inversa à da população. Para os formadores de opinião, Cuba é melhor que nós em educação e muito melhor em saúde e tem menos corrupção. A ilha de Fidel seria pior que o Brasil na economia, nos direitos humanos, na liberdade de imprensa e seria igual nos direitos de maneira geral. Já a população acha que a saúde e a educação são piores em Cuba que no Brasil e que os cubanos estão muito piores que nós na economia, na qualidade de vida, nos direitos humanos, na liberdade de imprensa e na igualdade de direitos. |
Entrevista:O Estado inteligente
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