Talvez isso explique por que tanta gente continue prevendo e apostando no desastre global.
Ontem, os mercados operaram mais calmos, mas fecharam em baixa, depois de um dia de enormes oscilações. O Índice Bovespa, que mede o desempenho das ações mais negociadas, abriu em alta, caiu, foi e voltou quatro vezes, mas fechou em baixa. Essa volatilidade deve continuar. É como o efeito do marmanjo caindo em banheira cheia d?água. É preciso tempo para enxugar o prejuízo e restabelecer o equilíbrio da mecânica de fluidos.
Depois do day after, dá para alinhavar três observações:
(1) Solidez dos fundamentos - Até onde se pode enxergar, nada importante está a perigo na economia global. A hipótese mais temida é a de que o consumo americano baqueie em conseqüência do aumento das prestações habitacionais. Mas essa é apenas uma cisma. A atividade econômica nos Estados Unidos e no mundo continua firme e a inflação, sob controle, apesar da alta do petróleo. Além disso, o comércio exterior segue se expandindo a mais de 10% ao ano. Nada autoriza apostas em recessão ou graves distúrbios da economia.
(2) Juros baixos - Ninguém espera que os bancos centrais voltem a puxar pelos juros. O que os analistas ainda discutem é se seria melhor uma elevação preventiva antes de nova fase de afrouxamento da política monetária. O Federal Reserve (Fed), banco central americano, mantém há 13 meses os juros básicos nos 5,25% ao ano. Está aberta a temporada de apostas sobre quando começará a fase de afrouxamento. Ou seja, a farta liquidez deve continuar.
(3) Baixo retorno - A remuneração (yield) dos títulos públicos nos Estados Unidos está mais baixa do que os juros básicos e tende a se achatar. Sexta-feira, por exemplo, as Notes de dez anos pagavam juros de 4,77% ao ano, enquanto os juros básicos estão, como ficou dito, nos 5,25% ao ano. Se levarmos em conta que a inflação anual americana está em torno de 2,7%, segue-se que o retorno real antes do Imposto de Renda é baixo, coisa de 3% ao ano. Com essa resposta, é inevitável que até os capitais mais covardes sejam tentados a se expor e a buscar mais rentabilidade. Conclui-se que é baixa a probabilidade de ocorrer o desastre global em que alguns analistas internacionais estão apostando.
Convém falar algo sobre o caso do Brasil. Ainda que lá fora aconteça o pior, não há razões para esperar que a economia brasileira seja tomada por uma crise de tipo convencional, que implique descarrilhamento cambial.
Hoje, o Brasil é credor líquido do resto do mundo. Não há risco de que faltem dólares, como no passado, para enfrentar os compromissos externos.