Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, outubro 05, 2006

PISTAS QUE A POLÍCIA FEDERAL AINDA NÃO VIU, OU IGNOROU




por Amaury Ribeiro Jr e Ugo Braga, no Correio Braziliense


Ao descartar a participação de Freud Godoy, segurança de muitos anos e ex-assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na compra do dossiê contra o PSDB, a Polícia Federal dá sinal de que pretende focar as investigações em Hamilton Lacerda, ex-assessor e ex-coordenador de campanha do senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Tal solução agrada ao Palácio do Planalto, mas fará com que a PF ignore pistas importantes que poderiam ajudá-la a desvendar de fato o mistério sobre de onde veio o dinheiro dos petistas "aloprados", até agora sem origem identificada.

Documentos obtidos pelo Correio mostram que a PF tem mais a descobrir vasculhando as movimentações financeiras da mulher de Freud, Simone Messenger, do que as dele próprio. E também de duas empresas ligadas ao casal: a Caso Sistema de Segurança Ltda, em que ela é sócia majoritária, e a Caso Comércio e Serviço Ltda, cujo 95% do capital pertence ao ex-assessor do presidente — fato não mencionado em nenhum momento durante a investigação.

A PF descartou Freud Godoy como suspeito anteontem. Fez isso depois de uma investigação superficial. Após uma varredura nas contas telefônicas dos personagens cujo sigilo já foram quebrados até aqui, os policiais não encontraram sinal dos números usados pelo ex-assessor presidencial. Em tese, ele não teria falado ao telefone com nenhum dos envolvidos nos momentos críticos da negociação.

Depois disso, o nome de Freud foi submetido ao Radar, programa de computador que cruza informações nos diversos bancos de dados da PF. Mais uma vez, o sistema não "cuspiu" menções a ele. Significa que nenhum personagem citou-o em qualquer dos depoimentos — à exceção, é claro, de Gedimar Passos na noite em que foi preso (veja quadro ao lado). Diante dessas duas investidas negativas nos autos, os policiais trataram de vazar a notícia de que ele fora oficialmente retirado do rol de investigados.

Factoring

Outros parâmetros, no entanto, ficaram de fora do levantamento. Por exemplo, ao justificar a ascensão patrimonial do casal, Simone costuma dizer que os bens são fruto de seu trabalho como empresária. Mas foi somente em 2004 que ela passou a administrar a Caso Sistema de Segurança, uma prestadora de serviços que ganha a vida alugando seus atributos ao PT. Seis anos antes, em 1998, já existia a Caso Comércio e Serviço, formalmente atrelada a Freud. Enquanto a empresa de segurança, da mulher, é encarregada de dar visibilidade a parte operacional, a firma de comércio e serviços, do marido, centraliza as principais operações financeiras e empresariais.

No dia 18 de setembro, quando a foto de Freud foi estampada nos jornais depois de o petista Gedimar Passos identificá-lo como mandante da transação com os sanguessugas, a Caso Segurança fechou uma operação financeira com a Deccastro Consultoria e Fomento Mercantil Ltda, empresa de factoring de São Paulo. Coincidentemente, cheques da Caso Comércio também foram descontados lá, no mesmo dia.

Sem rumo

A PF também não mexeu uma palha para identificar dois personagens misteriosos, cujos nomes estavam estampados em pequenos papéis saídos de bobina de calculadora manual, apreendidos junto com os R$ 1,7 milhão carregados pelos petistas no hotel Íbis, onde foram presos. São André Márcio Silva e Seleste Souza. A reportagem do Correio descobriu-os na cidade fluminense de Nova Iguaçu e no bairro carioca de Campo Grande, respectivamente. Não há maiores informações sobre a dupla, exceto que manuseou os reais guardados por Valdebran e Gedimar. O Correio chegou a fazer contato telefônico com a mulher. Assustada, ela perguntou onde haviam achado seu número. Desligou abruptamente e não atendeu mais.

O delegado responsável por desvendar a origem do dinheiro, Luiz Flávio Zampronha, tampouco pôs a lupa sobre a Action Corretora, dirigida por outro personagem controverso, o operador Alcindo Ferreira. A Action adquiriu dólares do banco Sofisa. Rastreados pelo número de série, pelo menos parte desses dólares estava entre os US$ 248,8 mil apreendidos com os petistas. Ferreira entrou na corretora pouco mais de um mês antes de o caso explodir, quando as negociações dos "aloprados" com os sanguessugas já estava a todo vapor.


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