Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, outubro 02, 2006

ENTREVISTA - Geraldo Alckmin: “Vou ganhar do Lula”

ENTREVISTA - Geraldo Alckmin: “Vou ganhar do Lula”
02.10, 12h01
Estado de S. Paulo





O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, sempre acreditou que iria para o segundo turno da disputa presidencial. Mesmo quando as pesquisas apontavam como praticamente certa a vitória de Lula (PT), seu maior oponente, ele não desanimou, o que surpreendeu até seus principais conselheiros. Com a mesma convicção e fé, Alckmin afirmou ontem, em entrevista exclusiva ao Estado, que vai ser o futuro presidente do País. 'Eu vou continuar calçando as sandálias da humildade. Mas vou ganhar do Lula.'

Ao lado da filha mais velha, Sophia, que ele carinhosamente trata de sua 'secretária do bem-estar pessoal', um sereno Geraldo Alckmin, meia hora antes do encerramento da votação, pregou: 'Eu tenho absoluta confiança de que nós vamos chegar e ganhar a eleição.'

Do bolso da camisa azul-claro ele puxou uma folhinha dobrada em dois com uma mensagem de fé que o acompanha: 'Quem não está contra nós, está a nosso favor.'

'Nós vamos conquistar passo a passo, degrau a degrau, a confiança dos brasileiros, assim como chegamos ao segundo turno contra uma máquina do governo utilizada de forma desavergonhada', afirmou.

Aos 53 anos, Alckmin enfrenta o maior desafio de sua carreira política, que começou na década de 70, quando se elegeu primeiramente vereador e, depois, prefeito de Pindamonhangaba, interior de São Paulo, onde nasceu. Uma vez deputado estadual e outras duas federal, Alckmin foi vice-governador de São Paulo (1995-2001).

Com a morte de seu padrinho político, Mário Covas (morto em 2001), assumiu o Palácio dos Bandeirantes, de onde saiu em abril para disputar a Presidência da República, ainda que sem apoio maciço de seu partido.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

Qual vai ser a estratégia do sr. no segundo turno?

Eu entendo que na segunda etapa nós temos condições de ampliar mais junto aos eleitores. Vou procurar os que foram candidatos e, especialmente, falar com os eleitores dos demais candidatos. Temos menor rejeição e entendo que podemos crescer mais no segundo turno.

O escândalo do dossiê Vedoin e a recente divulgação das imagens do dinheiro foram fundamentais para que chegasse ao segundo turno? Vai continuar explorando a questão ética e exibir no horário eleitoral gratuito as fotos do R$ 1,75 milhão aprendidos com petistas?

Eu pretendo fazer uma campanha propositiva. O problema não é só o dossiê, a compra do dossiê, que é algo extremamente grave. É lamentável que 15 dias depois não se tenha o dono das contas, a origem do dinheiro, a origem do dólar, nada explicado. Nada explicado. O governo Lula, o Lula e o PT têm o dever de prestar contas à sociedade. Agora, não é só esse fato, é a seqüência. Tudo o que aconteceu nesses últimos anos, que mostra de um lado um perfil autoritário por parte do Lula e do PT e, de outro lado, mostra esse vale-tudo pelo poder. Hoje é inseparável essa mistura de governo do Brasil com PT. Isso é um atraso. Partido, o nome já diz, é pedaço. E governo é para o todo.

Sua ida para o segundo turno se deu mais por conta do senhor ou pela desesperança e pelo descrédito do povo em relação ao governo Lula?

Acho que é uma somatória de fatores. Você tem uma combinação das duas coisas. Eu sempre disse que é reeleito governo que tem um grande projeto, o que poderia justificar a reeleição. Um grande governo, não deu para terminar, então, você tem um grande projeto. O governo atual mal terminou o mandato. Crise em cima de crise e não tem projeto nenhum, a não ser projeto de poder.

O sr. teme que no segundo turno haja uma guerra de dossiês ou que o PT investigue com profundidade seu governo em São Paulo?

Não temo nada.

Teme alguma denúncia?

Eu tenho 30 anos de vida pública com a mesma coerência e o mesmo comportamento. Podem investigar o que quiserem. Eu não tenho medo de cara feia, não.

Qual vai ser o espírito do segundo turno?

Vamos trazer de volta a esperança para o povo brasileiro. Recuperar a frustração toda que aconteceu no governo Lula. Vai ser uma campanha de fortes emoções.

Embora ressalte que pretende fazer uma campanha propositiva não há como negar que o fato de sua campanha ter lembrado dos escândalos do governo Lula foi importante?

O centro da campanha não será isso. Serão as propostas para o Brasil. Tenho absoluta confiança de que o Brasil pode ir muito melhor. Primeiro, do ponto de vista ético. Não é possível ter tanto escândalo em um governo só. Segundo, sob ponto de vista da eficiência, da qualidade dos serviços públicos, é possível melhorar e muito a educação, a saúde e a segurança pública. Terceiro, do ponto de vista do crescimento.

O Brasil não pode continuar com essa receita de aumentar gasto corrente, aumentar imposto e cortar investimento. Não vai crescer desse jeito. É preciso inverter, fazer o ajuste fiscal, reduzir gasto corrente, reduzir impostos analisando as cadeias produtivas e aumentar investimento, ou seja, a agenda do crescimento.

O sr. mencionou que vai procurar os outros presidenciáveis para apoio no segundo turno. O que será feito para atrair Cristovam Buarque (PDT) e Heloísa Helena (PSOL) para seu palanque?

Eu vou procurar todos os contatos. Eu respeito muito os partidos políticos. Essas conversas devem ser partidárias, por meio do nosso presidente, Tasso Jereissati, e dos presidentes dos partidos. Eu acho importante respeitar os partidos e fortalecer partido político e os candidatos. E eu mesmo também vou procurar. Política é conversa. Em torno de programa, de princípios, valores. E não só vou procurar os candidatos como os demais partidos.

Vai buscar uma aproximação com o PMDB?

Mas é claro.

Como vai ser?

O PMDB que está vencendo é o PMDB que não é do Lula. O PMDB do Lula é o que está sendo derrotado. Newton Cardoso, Jader Barbalho, Ney Suassuna. Esse é o PMDB do Lula.

Quais outros partidos considera importante?

Quero conversar com todos. PV, PDT. Todos os partidos eu vou procurar conversar.

Durante o primeiro turno muitas críticas foram feitas à sua campanha, principalmente na TV, de que faltava um tom mais agressivo em relação ao seu adversário. E isso só veio na reta final. O segundo turno começa também em um tom mais agressivo?

Eu tenho dito que uma campanha não pode ser errática. Campanha precisa ter um rumo. Entendo que a parte mais dura nós já ultrapassamos, que foi chegar ao segundo turno, vencendo todos os descréditos. Agora, é esperança, confiança no Brasil. O Brasil não pode perder mais quatro anos. O Lula teve sua chance e deixou passar. Perdeu a oportunidade.

Um segundo turno entre Lula e Alckmin. A presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ajuda ou atrapalha?

Sempre ajuda. Agora, nós estamos discutindo é o futuro, são os próximos quatro anos. É quem pode fazer mais no governo federal. Quem pode fazer mais nos próximos quatro anos? É essa a pergunta e quem vai responder é o povo no segundo turno. Eu tenho absoluta confiança que nós vamos como conquistamos, passo a passo, degrau a degrau, como conquistamos a confiança dos brasileiros para chegar ao segundo turno contra uma máquina do governo utilizada de forma desavergonhada, mesmo assim nós chegamos. Nós vamos chegar e ganhar a eleição.

No segundo turno espera empenho dos já eleitos governadores José Serra e Aécio Neves?

De todos. Serra, Aécio, Luiz Henrique, Arruda, André Puccinelli. Já temos eleitos mais de dez governadores.

Que tipo de empenho o sr. espera. Mais do que eles fizeram no primeiro turno?

Não. Todo mundo se empenhou. Mas é claro que cada um teve de cuidar de sua campanha. Agora, os que já estão eleitos podemos fazer um trabalho maior. Eu vou calçar de novo minha sandália da humildade. A eleição é sempre disputada. Não há eleição fácil e é bom que seja disputada. Quem ganha é o povo. Quem ganha é o eleitor com a comparação, as propostas, com o contraditório. Isso é positivo. É bom.

Quando teve certeza de que iria para o segundo turno?

Médico tem olho clínico, né? É a rua. Você percebe quando você está criando uma sintonia, você está no mesmo canal. Está criando uma empatia. E a outra é a curva. Eu sempre disse que pesquisa é o retrato do momento. O que interessa é curva. Eu já vivi isso em 98 na campanha do Mário Covas. Ele perdeu a noite inteira e foi para o segundo turno em uma virada de madrugada e depois colocou 2 milhões de votos de frente no segundo turno. É preciso ter fé, confiar nas pessoas. Eu tenho fé e confiança. Percorrendo o Brasil, como eu percorri, a gente vê o quanto de coisas têm por fazer. O quanto a máquina federal está atrasada sob o ponto de vista de gestão. E quanto tem de desperdício, dinheiro jogado fora. Inacreditável. São 3 mil obras paradas. O povo pagando para a obra não ser concluída, custando o dobro do preço. Um absurdo. Aí está o resultado. 40% do PIB de carga tributária, 38% e não tem dinheiro para nada.

O sr. se considera um homem de sorte?

Política é destino. (Alckmin sorri).

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