Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 14, 2006

Atrás na corrida tecnológica

EDITORIAL OESP -

D ecepciona, mas não surpreende, o fato de o Brasil ter apenas três empresas na lista das 2 mil em todo o mundo que mais investem em pesquisa e desenvolvimento. Há tempos, o ranking das empresas que mais aplicam recursos nessa área é dominado por grandes corporações que atuam em escala global, como as gigantes das áreas automobilística, química e farmacêutica, eletroeletrônica e de softwares. Mesmo assim, países com os quais o Brasil é freqüentemente comparado por analistas internacionais - como China, Índia e Coréia do Sul, entre outros - têm presença mais destacada nesse ranking.

O levantamento - como mostrou no sábado o correspondente do Estado em Genebra,Jamil Chade - foi feito pela União Européia e constatou que, no ano passado, as empresas privadas relacionadas investiram 371 bilhões, ou 7% mais do que em 2004.

As três empresas brasileiras que fazem parte da lista aumentaram bem mais seus investimentos. Mas isso não foi suficiente para assegurar-lhes melhor colocação na lista. A Petrobrás, a primeira brasileira da lista e que está na 171ª colocação entre as 2 mil, investiu 338 milhões em pesquisa e desenvolvimento no ano passado, 60% mais do que em 2004. A Companhia Vale do Rio Doce, que ocupa a 260ª posição na lista, investiu 47% mais, alcançando 234 milhões. Já a terceira empresa brasileira, a Embraer, que está na 620ª colocação, investiu 78 milhões em 2005, o dobro do que aplicou no ano anterior.

Outros dados mostram como é desconfortável a posição brasileira na classificação mundial de ciência, tecnologia e inovação. Em 2005, a Coréia do Sul registrou 4.750 patentes na Organização Mundial de Propriedade Intelectual, enquanto o Brasil registrou apenas 280, menos também do que o número de registros feitos por China e Índia. Há cerca de 20 anos, o Brasil registrava mais patentes do que a Coréia do Sul.

Pesquisas nacionais mais recentes mostram que, apesar das promessas do governo federal, o investimento brasileiro em pesquisa e desenvolvimento vem diminuindo, quando comparado com o PIB. Em 2001, o País investiu o equivalente a 1,02% do PIB. Esse índice caiu para 0,98% em 2002, 0,95% em 2003 e 0,93% em 2004, de acordo com o Ministério da Ciência e Tecnologia.

A área financeira do governo não parece ter percebido a importância dos investimentos em inovação tecnológica para acelerar o crescimento e reduzir os problemas sociais. Recursos que deveriam ser destinados para essa finalidade estão sendo contingenciados em volumes expressivos e, quando se tentou impor limites a essa prática, o Executivo não permitiu. Em abril último, por exemplo, o Senado aprovou um projeto cujo ponto principal era reduzir de 60% para 40% o volume de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) que poderia ser contingenciado pelo governo, mas o presidente Lula vetou o projeto.

Há mais recursos retidos do que aplicados. Recente reportagem do Estado mostrou que, de R$ 6,1 bilhões arrecadados pelo fundo, R$ 3,2 bilhões deixaram de ser aplicados. A liberação tem sido lenta e, se o cronograma atual for mantido, a liberação total só ocorrerá em 2010.

A descoberta científica, a mudança tecnológica, a inovação em termos de produtos e métodos têm papel decisivo no aumento da produtividade da economia, como já mostraram os países que mais crescem no mundo, a começar pelos asiáticos. É por meio do progresso tecnológico, mais do que em decorrência de qualquer outro fator, que se poderá reduzir mais depressa a distância entre países mais e menos desenvolvidos. Até mesmo problemas conjunturais importantes, como a taxa de câmbio, podem ser superados por meio do ganho de eficiência decorrente da inovação tecnológica, como fizeram Alemanha e Japão na década de 1970.

Os países que mais investiram em pesquisa e desenvolvimento são os que mais recebem investimentos das grandes corporações, pois é nesses países que elas encontram as condições mais adequadas para progredir. Por obsessão fiscalista, o governo brasileiro não dá a devida importância a essa questão e, assim, retarda o crescimento e amplia a distância que nos separa das economias mais dinâmicas.

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