Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 12, 2006

PROCURADOR ACUSA PT DE FORMAR QUADRILHA CHEFIADA POR DIRCEU

PROCURADOR ACUSA PT DE FORMAR QUADRILHA CHEFIADA POR DIRCEU

Eugênia Lopes
O Estado de S. Paulo
12/4/2006

Ministério Público denuncia ao STF uma 'sofisticada organização criminosa' que inclui Genoino e Gushiken

O procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, concluiu que o esquema do mensalão era operado por uma "sofisticada organização criminosa" comandada pelo PT. Em denúncia enviada ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF), o procurador apontou o ex-ministro José Dirceu como "chefe do organograma delituoso" e três ex-dirigentes petistas - José Genoino, Delúbio Soares e Silvio Pereira - como integrantes do "núcleo principal da quadrilha".

Ao todo, foram denunciadas à Justiça 40 pessoas, entre políticos e empresários. Com 136 páginas (veja principais trechos nas páginas A6 e A7), o texto de Souza é bem mais contundente do que o relatório final da CPI dos Correios, contestado pelo partido. Entre os acusados, figuram o ex-ministro Luiz Gushiken, o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) e o publicitário Duda Mendonça, que fez a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência em 2002.

"Toda a estrutura montada por José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino e Silvio Pereira tinha entre seus objetivos angariar ilicitamente o apoio de outros partidos políticos para formar a base de sustentação do governo federal", diz o texto, reafirmando a tese do mensalão. "Nesse sentido, eles ofereceram e, posteriormente, pagaram vultosas quantias a diversos parlamentares federais, principalmente os dirigentes partidários, para receber apoio político do PP, PL, PTB e parte do PMDB."

No total, foram denunciados 13 parlamentares como beneficiários do mensalão, 5 deles já absolvidos no julgamento interno da Câmara - João Paulo, Professor Luizinho (PT-SP), João Magno (PT-MG), Romeu Queiroz (PTB-MG) e Pedro Henry (PP-MT). Ficaram de fora do texto, assinado pelo procurador no dia 30, seis deputados acusados pela CPI dos Correios: José Mentor (PT-SP), Roberto Brant (PFL-MG), Sandro Mabel (PL-GO), Vadão Gomes (PP-SP), Wanderval Santos (PL-SP) e Josias Gomes (PT-BA).

O empresário Marcos Valério foi apontado como "um verdadeiro profissional do crime". O procurador-geral afirmou que Valério prestara "serviços delituosos" para o PSDB em 1998, na campanha à reeleição do então governador de Minas, Eduardo Azeredo, hoje senador. Depois, o empresário ofereceu seu know-how ao partido do presidente Lula: "Com a vitória na eleição presidencial, inicia-se, em janeiro de 2003, a associação criminosa entre os dirigentes do PT e os denunciados ligados a Marcos Valério e ao Banco Rural."

Apesar disso, Souza poupou Lula, afirmando que o presidente não teve nenhum envolvimento com o esquema. "Não há nenhuma referência ao presidente Lula", disse o procurador, ao receber ontem o relatório final da CPI dos Correios.

A denúncia não aborda o caso de Fábio Lula da Silva, filho do presidente, que vendeu parte da Gamecorp, empresa de sua propriedade, para a Telemar. Os 40 denunciados ao STF são acusados de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, corrupção ativa e passiva e peculato.

O procurador afirmou que o esquema do mensalão era uma organização criminosa dividida em três núcleos. O primeiro era o político-partidário, integrado por Dirceu e pelos dirigentes petistas que pretendiam "garantir a permanência do PT no poder com a compra de suporte político de outros partidos e com o financiamento irregular de campanhas".

O outro núcleo era integrado por Marcos Valério e seus sócios e era responsável por receber vantagens indevidas de integrantes do governo. Foi o caso dos contratos de publicidade com a Câmara e com a Visanet, administradora de cartões de crédito que tem o Banco do Brasil entre seus acionistas.

O terceiro núcleo era formado, segundo o procurador, pela cúpula do Rural, que teria "entrado para a organização criminosa em busca de vantagens indevidas", além de facilitar a lavagem de dinheiro. Segundo ele, "para a execução dos pagamentos de propina, Dirceu, Delúbio, Genoino e Pereira valeram-se dos serviços criminosos prestados por Marcos Valério, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz, Rogério Tolentino, Simone Vasconcelos e Geiza Dias".

 

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