Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 29, 2006

Ao lado do ‘companheiro Dirceu’, Lula avisa: ‘Não nos derrotarão’

OESP
Ao lado do 'companheiro Dirceu', Lula avisa: 'Não nos derrotarão'

Em discurso no encontro do PT, com tom de candidato, presidente insinua estar sendo vítima de tentativa de golpe

Vera Rosa

Wilson Tosta

Mariana Caetano

No primeiro encontro nacional do PT após a crise do mensalão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu ontem aos gritos de guerra pedindo a sua reeleição com um discurso em que mencionou alguns dos principais envolvidos nos escândalos dos últimos meses. Saudado na abertura do 13º Encontro Nacional do partido com euforia, Lula fez referências carinhosas ao ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu e ao chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos, Luiz Gushiken, presentes à reunião, e ao ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, que não compareceu.

Lula insinuou estar sendo vítima de uma tentativa de golpe e assumiu tom de candidato, embora não assumindo oficialmente a candidatura. "Aconteceram duas coisas fantásticas no País: a CPI dos Correios não foi dos Correios, foi do PT. A CPI dos Bingos não foi dos Bingos, foi do PT. Encontraram uma forma de fazer o julgamento do nosso partido porque eles sabem que, na disputa democrática, não nos derrotarão."

O presidente foi, então, interrompido pela platéia, aos gritos de "um dois, três, é Lula outra vez". Antes, Lula conclamou os militantes a não deixarem que o PT seja julgado pelos adversários, que em alguns casos se colocariam como inimigos. Afirmou, ainda, que o comportamento de seu partido no passado era "fichinha" diante do que o seu governo tem enfrentado. "O PFL e o PSDB estão dando uma pequena lição à esquerda de como fazer oposição."

Emocionado, Lula insinuou que está sendo vítima de tentativa de golpe. "Estamos em tempo de enfrentamento, de embate", insistiu. Afirmou que, diferentemente dos adversários, o PT não tinha "melindres" quando estava na oposição e não atacava a família dos rivais. "Estão dizendo para nós: vale tudo nessa saraivada enorme de tiros."

Logo no início do discurso, o presidente fez uma referência a Dirceu: "Está aqui nosso companheiro." O ex-ministro foi aplaudido de pé pela maioria, enquanto alguns puxaram uma vaia. Timidamente, seus aliados entoaram o coro "Dirceu é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo". Sobre Palocci, Lula disse que o ex-ministro fazia falta no encontro. De Gushiken, afirmou que estava magro.

Lula ironizou as análises políticas que, logo no início do escândalo, pregavam o fim do PT. "Nem bem começou a crise e já tinha uma penca de livros dizendo que o PT tinha acabado."

Diante de uma platéia de 1.200 delegados, alguns deles convidados internacionais, Lula empregou alguns termos em espanhol. "Cá estou, com certa dificuldade, porque passei parte dos últimos 30 anos falando mal de governos. Mas cá estou e, portanto, não posso 'hablar' mal de mim mesmo." Também alfinetou a imprensa: "Uma parte da imprensa sabe que não tem sido democrática comigo."

Apesar de todo apoio, Lula não oficializou a candidatura. O presidente do PT, Ricardo Berzoini, ressaltou que o partido era solidário à decisão de Lula de "só tomar a decisão sobre a candidatura no momento que julgar adequado". "Mas tenha certeza de que o PT não vai esperar essa decisão. Já estamos preparando a campanha."


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