Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 29, 2006

Copa da Educação GESNER OLIVEIRA

FOLHA



Pouca gente tomou conhecimento, mas ontem foi o Dia da Educação. O país precisa acordar para o assunto. Se o Brasil for eliminado da Copa da Alemanha, haverá luto nacional. Mas perdemos de goleada todos os dias nos bancos escolares e tudo continua na mesma. Ou pior.
Segundo as Nações Unidas, o país registra taxa de repetência superior a 10% entre a primeira e a quarta séries do ensino fundamental. O indicador para o Brasil é de 21%, igual ao de Moçambique; e superior ao de Camboja (11%), Haiti (16%), Ruanda (19%), Lesoto (18%) e Uganda (14%), para citar alguns países com recursos significativamente mais limitados relativamente ao Brasil.
Sergio Ferreira e Fernando Veloso fizeram instigante proposta de reforma educacional no livro "Rompendo o Marasmo", de Armando Castelar e Fabio Giambiagi (editora Campus). O capítulo também contém os principais dados da tragédia brasileira.
O atraso é alarmante. A escolaridade média da população de 15 anos ou mais de idade era de 4,9 anos em 2000. É um número inferior ao de vários outros emergentes, como a Índia (4,9), a China (6,4), a Costa Rica (6,1) e a Argentina (8,8). E, naturalmente, bem inferior ao de países desenvolvidos, como os EUA (12,1). Pouco mais de um entre cinco brasileiros tem pelo menos o ensino médio. Nos EUA, essa proporção é de 91%, na Coréia do Sul, de 82%, e na Argentina, de 51%.
Fala-se em maior equilíbrio no futebol mundial. É verdade. Mas o real problema reside na perda de posição na corrida do conhecimento. Em 1960, o Brasil tinha um nível de escolaridade média de 2,9 anos, superior ao de México (2,8), Índia (1,7) e Portugal (1,9). O México ultrapassou o Brasil nesse indicador nos anos 70, e Índia e Portugal nos deixaram para trás nos 80.
A tragédia educacional não pode ser explicada pela falta de recursos. O Brasil gasta 4,2% do PIB em educação. É um percentual equivalente ao da Coréia do Sul e superior ao do Japão (3,6%). O problema é que o país gasta mal. As prioridades estão invertidas. Os ricos se beneficiam dos poucos benefícios que o sistema oferece, e os pobres estão excluídos.
Um sistema educacional democrático deveria dotar as pessoas das faculdades básicas para desenvolver suas potencialidades. Isso exige ênfase nos primeiros anos de escola e mesmo na pré-escola. O sistema brasileiro faz o contrário. Oferece uma péssima educação básica de forma que só os ricos podem se preparar de maneira adequada nos primeiros estágios de aprendizado. E depois subsidia as mesmas camadas privilegiadas com ensino gratuito nas universidades públicas.
Os dados do Banco Mundial apresentados por Ferreira e Veloso são ilustrativos. O subsídio público por aluno matriculado no ensino superior no Brasil é de 51%, contra cerca de 11% nos ensinos médio e fundamental.
Os autores citados fazem uma série de propostas para mudar esse quadro. As sugestões vão na direção de maior prioridade para os ensinos fundamental e médio, maior ênfase na qualidade e introdução de mecanismos de eficiência e competição. A discussão de cada uma das propostas mereceria outro artigo.
Antes de mais nada, é preciso mudar a atitude. O mundo globalizado não admite mais a acomodação na mediocridade. Um exemplo apresentado por Andrés Oppenheimer, em debate recente na Universidade de Miami sobre a situação igualmente preocupante do México, ilustra o problema. Recentemente, o "Times" divulgou lista das melhores universidades do mundo, na qual a Universidade Autônoma do México ficou na 96ª posição (cem posições na frente da instituição brasileira mais bem colocada). Em vez de lamentar, um jornal mexicano destacou o fato de a Unam ser a melhor instituição mexicana!
Se o Brasil e o México pretendem crescer, é hora de mudar de atitude. Não importa tanto ganhar ou perder a Copa do Mundo. Desde que se comece a trabalhar com seriedade para ao menos se classificar daqui a duas gerações para a Copa da Educação.


Gesner Oliveira, 49, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), presidente do Instituto Tendências e ex-presidente do Cade. Atualmente, é professor visitante do Centro de Estudos Brasileiros na Universidade Columbia (EUA).
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br

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