Comentário da cientista política
"Um dos resultados já visíveis da crise política é a alteração na velocidade com que suas Excelências vêm reagindo às denúncias.
O presidente Lula, por exemplo. No episódio da ex-ministra Benedita da Silva, apanhada com a boca na botija usando recursos públicos para uma viagem particular a Buenos Aires, o presidente custou a entender do que se tratava. Era simplesmente utilização privada de dinheiro público.
No caso do ex-ministro José Dirceu, entre o escândalo Waldomiro, que explodiu no seu colo em fevereiro de 2004, e a decisão do presidente Lula de demitir Dirceu da Casa Civil, depois de acusado por Roberto Jefferson de ser o chefe da quadrilha do mensalão, passaram-se 16 longos meses.
Já no caso de Antonio Palocci, a ficha caiu mais rápido para Lula. Entre as primeiras denúncias de Rogério Buratti, em agosto de 2005, e a decisão de demitir Palocci, foram apenas sete meses. Convenhamos que é um progresso.
Mas a oposição não fica atrás em matéria de lentidão. Entre a descoberta de que o senador Eduardo Azeredo tinha sido um dos primeiros beneficiários do esquema Marcos Valério, até a decisão do próprio Azeredo de deixar a presidência do PSDB, os tucanos perderam um tempão e se enrolaram em desculpas esfarrapadas, explicações lambonas e insuficientes.
Da mesma forma, o PFL viu-se em palpos de aranha quando o deputado Roberto Brant foi apanhado no caixa dois de Marcos Valério. Novas desculpas esfarrapadas, explicações lambonas e insuficientes.
Com o lançamento da candidatura de Geraldo Alckmin à presidência, surgiram denúncias de favorecimento de políticos amigos através da Nossa Caixa, o banco estadual. Custou a cabeça do secretário de Comunicação de Alckmin, mas as explicações até agora não convenceram ninguém.
Da mesma maneira, o problema do guarda-roupa da ex-primeira dama paulista, Lu Alckmin, ainda não ficou inteiramente esclarecido. O costureiro diz que deu a ela 400 peças, e a assessoria de dona Lu declara que foram apenas 40. Como se o problema estivesse na quantidade de vestidinhos e não na atitude pouco ética da ex-primeira dama, de aceitar presentes tão caros.
Agora, diga-se o que quiser do ex-governador Garotinho. Apanhado por uma reportagem do jornal O Globo, com umas doações estranhas para sua pré-campanha à presidência, com notas fiscais de umas empresas prá lá de suspeitas, Garotinho não esperou três dias para declarar que vai devolver o dinheiro.
Não se sabe de onde ele vai tirar recursos, nem se sabe mesmo se o dinheiro será realmente devolvido.
Mas Garotinho, que nunca foi bobo, percebeu o potencial explosivo de uma denúncia dessas e antecipou-se.
Isto pode ser um sinal de que os políticos finalmente compreenderam que este negócio de corrupção pode não ter efeitos eleitorais imediatos, mas a longo prazo não é saudável para ninguém. Nem para suas biografias, nem para as instituições democráticas."