O convite formal para registro externo será feito nos próximos dias pelo presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati, mas o acerto já está feito na cúpula tucana: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vai ser o homem das idéias na campanha de Geraldo Alckmin, vai coordenar o programa de governo.
Com isso, FH sai da linha direta de tiro do PT, nos dois sentidos: como estilingue e também como vidraça. Ele não estará na tropa que dará combate direto ao presidente Luiz Inácio da Silva. Na versão difundida pelos tucanos, para não "se nivelar"; na realidade, para não dar ao PT a arma da confrontação permanente e explícita entre os governos Lula e Fernando Henrique.
Menos que temor da comparação dos dados, o que move o PSDB é o propósito de evitar que o candidato em si deixe de ser o protagonista da eleição e que Lula, no lugar de enfrentar quem de fato pleiteia a Presidência da República, consiga transformar a campanha num embate entre presente e passado.
O tucanato quer falar de futuro, mas principalmente quer fugir da armadilha de ver a campanha de 2006 transformada numa reedição da de 2002, um cenário em que Lula teria mais condições de pedir ao eleitorado a renovação da esperança na mudança.
Nas avaliações internas que sustentaram a decisão de fazer de Fernando Henrique o grande mentor do conteúdo das propostas de Alckmin pesaram dois fatores: primeiro, a constatação de que o governo FH não deixou saudade e isso fica evidente nos baixos índices de preferência registrados nas pesquisas quando se apresenta o nome do ex-presidente. O PSDB acha injusto, mas não vai brigar com os fatos. O segundo, a decisão de aproveitar de Fernando Henrique o que ele tem de melhor a oferecer, substância intelectual e capacidade de formulação.
Desse modo, o PSDB não deixa de fora da cena a sua figura mais proeminente, mas também o preserva de ações agressivas, obviamente desgastantes para um ex-presidente da República. FH vai falar, e bastante, durante a campanha, mas de uma maneira que não o exponha ao bate-boca.
De acordo com a interpretação do tucanato, quando o ex-presidente exercita seus dotes analíticos com sofisticação, ele tira o PT do sério e leva Lula a reações impulsivas e irritadiças. Mas precisará fazer isso sem ceder à tentação de exibições excessivas de erudição, pois soam arrogantes e tendem a provocar solidariedade ao adversário atacado.
Fernando Henrique seria, em resumo, na idéia do PSDB, não um lutador pronto para briga de vale-tudo, mas um provocador sutil, investido da autoridade de coordenador-geral do debate das idéias contidas no programa de governo com o qual os tucanos pretendem voltar ao poder.
Em guarda
Briga de verdade com o prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, diz que não quer. Mas uma farpa na forma de troco por ter sido alvo de insinuação pública de que estaria fazendo corpo mole na campanha de Geraldo Alckmin, Aécio faz questão de atirar na carótida do pefelista.
"Quem agride os outros para aparecer, sinaliza carência de outros atributos políticos. Não é o caso de César Maia, uma grande liderança no Sudeste. Aliás, se quiser vir a Minas ajudar na minha reeleição, ficarei grato em me beneficiar de sua popularidade por aqui."
O governador não tem nenhuma dúvida sobre a formalização da aliança entre PSDB e PFL e marca até a data do enlace: "Final de maio." Acha que César Maia ataca os tucanos à revelia da direção do PFL porque perdeu a condição de interlocutor privilegiado na montagem da aliança desde que não aceitou seu candidato ao governo do Rio e viu o PSDB lançar Eduardo Paes.
"Ficou sem chão agora e no ar quanto ao futuro, saiu do eixo, deixou de ser importante", resume.
Aécio Neves não aceita, de aliados nem de companheiros de partido, a alusão a um suposto, e proposital, distanciamento da campanha de Alckmin em função de seus planos - que, mineiramente, não assume - de ser candidato a presidente em 2010. Estaria, nessa versão, pouquíssimo interessado em ver eleito agora um oponente interno com direito a reeleição.
"Se isso fosse verdade eu não teria me empenhado na candidatura de José Serra ao governo de São Paulo porque, uma vez eleito, será o mais forte candidato do partido em 2010 a presidente."
Contra Alckmin? Ou o governador de Minas não tem tanta certeza assim na eleição do tucano agora?
Nem uma coisa nem outra. Aécio é daqueles que acreditam que o eleito agora não concorrerá a um segundo mandato. Seja por força de acordo interno no PSDB, seja por mudança na Constituição extinguindo o direito à reeleição.
Para demonstrar seu empenho na campanha, Aécio promete nesta semana reunir 800 prefeitos durante visita de Alckmin a Minas. E quer mais: sediar em seu Estado a convenção que oficializará a candidatura do PSDB. "Não sendo em São Paulo, pode ser em qualquer lugar. Em Minas seria o ideal."