Abençoado pelo petróleo
Comentário da cientista política Lucia Hippolito na CBN:
"Desde o início da República, a luta pelo petróleo era tema recorrente entre políticos e intelectuais brasileiros. Foi a batalha da vida do escritor Monteiro Lobato, por exemplo.
Símbolo de independência econômica, o petróleo tornou-se causa maior da soberania nacional. A partir de 1948, o slogan "O petróleo é nosso" virou marca registrada de uma luta bem ao gosto da época, de nacionalismo e afirmação da soberania.
O projeto de lei que Getúlio Vargas enviou ao Congresso no final de 1953 criando a Petrobrás não previa o monopólio, mas foi modificado por iniciativa do maior partido da oposição, a UDN, que captou rapidamente o sentimento popular em favor do monopólio estatal. A Lei nº 2.004, que criou a Petrobrás, atribuiu a ela o papel de executora do monopólio da União.
Mas Getúlio não era um estatizante, tanto que sempre quis que a Petrobrás fosse uma empresa de economia mista, ou seja, com até 49% de capital privado. A Lei nº 2.004 determinou que as refinarias particulares existentes continuassem funcionando e que a distribuição continuasse a ser feita também por companhias estrangeiras. Esta foi a vontade de Getúlio Vargas, e assim surgiu a Petrobrás.
A Petrobrás cresceu como uma ilha de excelência no setor público. Ingresso por concurso, sistema de mérito, salários competitivos com o setor privado, técnicos competentes, proteção contra o assédio clientelista dos políticos.
A Petrobrás tornou-se um gigante entre as estatais. A partir de 1968, com o surgimento de subsidiárias, transformou-se numa holding, envolvendo-se com petroquímica, navegação, fertilizantes, mineração, comercialização de petróleo, passando a competir até mesmo no exterior, através da Braspetro.
A partir de meados da década de 80, a Petrobrás começou a explorar petróleo na plataforma submarina e descobriu a bacia de Campos, no norte do Estado do Rio, que hoje produz 83% de todo o petróleo brasileiro. E a Petrobrás tornou-se um gigante em exploração de petróleo em águas profundas.
É muito natural que o presidente Lula esteja faturando política e eleitoralmente a conquista da auto-suficiência na produção de petróleo. Claro que se a economia brasileira não tivesse tido um crescimento tão medíocre durante o governo Lula, talvez a demanda por petróleo fosse muito maior, portanto a auto-suficiência só chegasse em 2010, 2015, por aí.
Mas chegou agora, em 2006. É fruto de pelo menos 50 anos de esforços de gerações de brasileiros. Aconteceu no governo Lula. E Lula está faturando tudo o que pode.
Se fosse outro presidente, faria exatamente a mesma coisa, com uma ou outra diferença de ênfase. Portanto, a oposição não tem do que reclamar.
A única coisa que pode dizer é: "Que sorte tem este tal de Lula. Preside o governo mais corrupto de toda a história da República. Mas tem uma sorte danada!""