Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 26, 2006

Crime sindical

Crime sindical

EDITORIAL
O Globo
26/4/2006

Desde 21 de fevereiro estão em greve 60% dos funcionários não concursados (que são a maioria) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). São perto de 800 dos 1.300 servidores cedidos por outros departamentos do governo, e o que querem é justamente serem efetivados na agência, entre outras reivindicações. A paralisação tende a ser suspensa agora por proposta do governo, o que pode ser temporário ou definitivo. Depende do grau de submissão que o governo mostrar. Que tem sido alto quando se trata de enquadrar movimentos sindicais e ditos sociais.

Porque é típica a leniência com que são tratados eventos desta natureza, desencadeados por corporações que integram a base eleitoral do governo — por piores que sejam os efeitos do movimento. No caso da Anvisa, os grevistas, como seria de se esperar, asseguram que não foi afetado o abastecimento de medicamentos essenciais, o que o Ministério da Saúde confirma. Mas a realidade é bem diferente, como reportagens demonstram à fartura. De resto, se uma greve assim não tivesse sérias repercussões negativas, seria de se perguntar se o trabalho que foi suspenso — e os trabalhadores que o executam — não tem utilidade.

Na verdade, tantos e tão graves são os problemas causados pelo movimento que mais de 1.300 mandados judiciais já foram impetrados para liberar insumos importados para remédios, que foram retidos pelos grevistas. Faltam hemoderivados, medicamentos que integram o chamado coquetel para tratamento da Aids, reagentes para detecção de hepatite, antibióticos e outros, porque a entrada no país de remédios e insumos para remédios é controlada pelos fiscais da Anvisa.

Greves no serviço público essencial são tema abordado com rigor mas de maneira sumária pela Constituição. Os dispositivos constitucionais estão desde 1988 aguardando regulamentação, sem a qual é como se não existissem. Dessa maneira fica aberta a porta para que se manifeste livremente o mais nefasto espírito corporativista. E o preço é pago, como sempre, pela população — especificamente, nesse caso, pelos mais pobres, que não têm acesso a alternativas ao serviço público de saúde.

 
 

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