Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, abril 27, 2006

Alberto Tamer - Petróleo não derruba economia





O Estado de S. Paulo
27/4/2006

Não vai faltar petróleo, os preços não vão explodir a curto e médio prazos, a economia mundial vai continuar crescendo e absorvendo as altas, mas esta será ainda uma semana de especulação. Espera-se para amanhã a resposta do Irã à Agência Internacional de Energia. Já se sabe qual é, vão prosseguir no programa nuclear lunático e belicoso, o quadro poderá agravar-se, mas há limites para a loucura iraniana. Eles também precisam da receita do petróleo, de investimentos externos, pelo menos US$ 50 bilhões para desenvolver novos campos, pois os atuais produzem cada vez menos. A demanda interna cresceu consideravelmente, hoje é de 2,5 milhões de barris diários. O Irã é o segundo maior exportador, com 2,5 milhões de barris diários, muito atrás de Rússia e Arábia Saudita, mas depende da receita desse petróleo, estimada em US$ 54 bilhões neste ano, acima dos US$ 47 bilhões em 2005.

HÁ MUITO PETRÓLEO, SIM

Dito isso, vamos aos fatos que mostram os limites do poder da insensatez aiatolana.

1 - Reunida em Qatar, neste fim de semana, a Opep decidiu manter e até elevar ao máximo sua produção. Se depender dela, não faltará petróleo.

2 - Após essa reunião, o ministro do Petróleo do Irã, Kazen Vaziri Hamaneh, correu a declarar ao Wall Street Journal que seu país não cortará a exportação de petróleo. "Temos petróleo, queremos vender, não vamos causar nenhuma privação aos consumidores."

3 - Na terça-feira, Bush anunciou a suspensão de compra de petróleo para ampliar as reservas estratégicas; elas cresceram já de mais de 320 milhões de barris e são hoje de 687,5 milhões de barris. Com isso deixa de tirar do mercado 2,1 milhões de barris diários, quase o que o Irã exporta. E, se precisar, a exemplo do que fez na Guerra do Golfo e no furacão Katrina, colocará mais petróleo das reservas no mercado. Terá sempre a Rússia abastecendo...

ESPECULAÇÃO

Com essas duas declarações, o preço recuou para US$ 72,8, mas os fundos que estão testando qual o limite máximo que podem ganhar contra-atacaram.

"Isso é mais ou menos como colocar cadeiras de lona (de navios) ao lado do Titanic. É cosmético", declarou Mark Mathias, diretor-gerente do Dawnay Quantum Hedge Fund. E outros foram na mesma linha, defendendo os lucros fabulosos. Isso equivale a 2 ou 3 dias dos 21 milhões de barris diários de consumo dos EUA, diziam. Eles esquecem que devem retornar aos estoques estratégicos até outubro 12 milhões de barris diários emprestados no Katrina.

Quem melhor definiu esse confronto foi o analista da Oppenheimer & Co Fadel Gheil. "O recuo (de US$ 75 para US$ 72,8 em apenas algumas horas) dá uma medida da especulação entre a demanda e o preço. Cerca US$ 10 por barril resulta da especulação; e esses US$ 10 podem ir a US$ 20."

A luta vai ainda continuar, pois há analistas pouco responsáveis, alguns até da Agência Internacional de Energia que entendem muito de petróleo, mas não de economia, falando levianamente em recessão se os preços se mantiverem nos níveis atuais. Apoiados em quê? O passado recente mostra exatamente o oposto!

TODOS CRESCEM NA CRISE!

Apesar das previsões sinistras e da considerável alta dos preços do petróleo, de US$ 25 para US$ 70 em dois anos, a economia americana anunciou ontem um aumento de 6,1% nas novas encomendas, a China confirma que cresceu 10,2% no primeiro trimestre. Mais ainda, na zona do euro, onde o preço do petróleo em dólar é mais caro, pois o euro está valorizado, a inflação não passou muito de 2%, mesmo com a elevação das taxas de juros.

E NÓS? ATÉ GANHAMOS!

E o Brasil? Não cresceu não por culpa do petróleo, mas por problemas internos. Somos um mundo à parte...

Ao contrário, a exportação a US$ 70 até ajudou a balança comercial, embora o preço, em reais, tenha pesado, mas não de forma decisiva na inflação, que continua sob controle.

Arquivo do blog