O que faz Lula para se reeleger
Na última segunda-feira, Lula reuniu-se com o ministro Tarso Genro, das Relações Institucionais, o ex-ministro Ciro Gomes, da Integração Nacional, e o deputado Eduardo Campos (PE), presidente do PSB, aliado fiel do PT e do governo.
E disse a eles mais ou menos o seguinte: é vital para o êxito de sua candidatura atrair o apoio do PMDB. Está disposto a dar ao PMDB o lugar de vice na chapa, alguns ministérios desde já e, se reeleito, a governar com o PMDB.
Lula acha Jarbas Vasconcelos, ex-governador de Pernambuco, o melhor nome do PMDB para vice porque é respeitado por todas as alas do partido. Mandou seus interlocutores tratarem de seduzir o PMDB e Jarbas.
Se a tarefa se revelar impossível e o PMDB teimar em disputar a eleição presidencial com candidato próprio, Lula revelou sua preferência por enfrentar Itamar Franco - Garotinho, jamais. Itamar seria uma parada mais fácil nas contas dele.
Garotinho tem potencial para crescer. E subtrai votos a Lula em meio aos evangélicos e aos eleitores mais pobres que vivem na periferia das grandes cidades. Sem um vice do PMDB, Lula avisou a Ciro que poderá vir a precisar dele na chapa.
Vai depender do clima da campanha. Se for pesado, capaz de fazer rolar muito sangue, Ciro teria o perfil ideal de vice. Caberia a ele sair no pau com os adversários para Lula seguir vestindo o figurino de "paz e amor" e de "pai dos pobres".
Caso o clima não prometa esquentar muito, José Alencar, o atual vice, será outra vez candidato a vice.
Há pouco, por telefone, Jarbas me contou que ainda não foi procurado por ninguém em nome de Lula. Mas que não vê chances de o PMDB apoiar formalmente Lula ou Geraldo Alckmin, candidato do PSDB.
- É forte a tendência do PMDB de concorrer à eleição presidencial com candidato próprio. Espero que até junho, quando tomará uma decisão em definitivo, o partido abandone a idéia de vez - observa Jarbas.
Por razões diferentes, ele e os senadores Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP) são contra o PMDB ter candidato - Renan e Sarney porque querem que o PMDB apoie Lula; Jarbas porque há 10 anos é aliado do PSDB e do PFL em Pernambuco.
Para os políticos, a província sempre será mais importante do que o país. Ao mesmo tempo que defende o apoio do PMDB a Lula, Renan, por exemplo, se empenha em eleger Teotônio Vilela Filho, do PSDB, governador de Alagoas.
Sarney pressiona o PFL para que Alckmin force o PSDB a apoiar a candidatura da filha dele, Roseana, ao governo do Maranhão. Roseana é do PFL. O PSDB do Maranhão prefere a candidatura de Jackson Lago (PDT), ex-prefeito de São Luís.
O governador Luiz Henrique (PMDB), de Santa Catarina, quis empurrar seu partido para o colo de Lula quando imaginou que o PT local cairia no seu. Como o PT não caiu, Luiz Henrique vai selar uma aliança com o PSDB de olho em sua reeleição.
Orestes Quércia quer ser candidato ao governo de São Paulo. Para ele, o melhor é que o PMDB não tenha candidato a presidente. Assim ele poderá se aliar em São Paulo com quem quiser. O que Quércia faz então?
Patrocina a candidatura a presidente de Itamar para tentar anular a de Garotinho. Itamar topa o jogo por que espera ser candidato ao Senado pelo PMDB. O ex-governador Newton Cardoso manda no PMDB mineiro. Detesta Itamar e apóia Garotinho.
Mas vai que Garotinho convence Cardoso a apoiar Itamar para o Senado. Aí não terá quem concorra com ele à indicação do PMDB para presidente.
Enquanto isso...
Bem, enquanto isso, Quércia tenta se entender com Aldo Rebelo (PC do B-SP), presidente da Câmara dos Deputados. Se a candidatura de Garotinho for para o espaço, Aldo será candidato ao Senado. E ele e Quércia apoiarão Lula em São Paulo.
De resto, ninguém está mais interessado em juntar Quércia e Aldo do que Lula. Foi o próprio Lula que o disse a Aldo. Ele quer ter em São Paulo dois palanques - o de Quércia e o do PT com Aloisio Mercadante, candidato ao governo, ou Marta Suplicy.
Uma vez candidato ao governo, Quércia levará a eleição em São Paulo para o segundo turno. Irá ele ou o candidato do PT. Se José Serra (PSDB) ganhar a eleição no primeiro, Lula ficará sem palanque caso haja segundo turno para a eleição presidencial.
Não cobrem coerência política, ideológica ou partidária de candidatos entre nós e na maioria dos lugares. Eles querem é vencer - e a qualquer preço.
Enviada por: Ricardo Noblat