Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 26, 2006

Clóvis Rossi - O silêncio e as cores do mundo


Clóvis Rossi - O silêncio e as cores do mundo


Folha de S. Paulo
26/4/2006

Os tempos da Guerra Fria podiam ser piores (ou melhores, sei lá), mas eram certamente mais simples -ao menos para os pobres de espírito.
Bastava alinhar-se com um dos lados e ficava-se dispensado de pensar (mais ou menos como ocorre agora no Fla-Flu cretino entre petistas e tucanos). Se você era comunista, esquerdista ou algo parecido, tudo o que os Estados Unidos e seus aliados diziam ou faziam era errado. E ponto final. Do outro lado, tudo o que faziam ou diziam os soviéticos e aliados era errado. Simples assim. Era a vida em preto-e-branco. Mais simples, mais fácil, mas mais pobre.
Variar o leque de cores no mundo dá um baita trabalho. Tome o caso do Irã. É possível aceitar a resistência iraniana à pressão norte-americana contra o seu programa nuclear, porque há aí uma baita hipocrisia: afinal, os Estados Unidos acabam de dar certificado de boa conduta à Índia, com o que sacramentam a existência de dois tipos de artefatos nucleares, os "bons" (dos amigos dos EUA) e os "ruins" (de seus adversários, ainda que momentâneos).
Da mesma forma, é possível simpatizar com as críticas dos iranianos (e dos palestinos) ao fato de que o Ocidente cobra respeito à legalidade internacional, mas não cobra de Israel que respeite as resoluções da ONU que determinam a devolução dos territórios palestinos.
O que definitivamente não dá para aceitar são as seguidas declarações do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, pregando a nova versão de "solução final" contra Israel. Aí, é Hitler de turbante. E ponto final.
Por extensão, tampouco dá para aceitar o silêncio de grande parte dos países sobre tais declarações. Condenar um tipo de barbárie, ainda que retórica, não significa estimular outro tipo de terrorismo, como seria um eventual ataque ao Irã por causa do programa nuclear.
Já não vivemos o mundo do preto-e-branco.

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