"O desastroso é que, do ponto de vista
da legalidade eleitoral, Garotinho seguirá
sendo um político igualzinho àqueles que
nunca foram pegos com a boca na botija"
Uma das razões pelas quais existem tantos picaretas e bandidos na política nacional acaba de desnundar-se diante dos olhos do país com o escândalo de Anthony Garotinho, o sujeito que tem feito tudo – rigorosamente tudo – para ser candidato à Presidência da República pelo PMDB. Em sua campanha para virar candidato, Garotinho acaba de ser pilhado numa bandalheira espantosamente disseminada. Andava alugando jatinho de bicheiro preso em Cuiabá, recebendo dinheiro de empresa que pertenceu a um assaltante enjaulado na penitenciária de Bangu, armando rede de financiadores gentilmente abastecidos pelos cofres do governo comandado por sua mulher. Uma lama só. Garotinho garante que gastou 650.000 reais na sua pré-campanha. José Dirceu, altamente versado no assunto, diz que foi uns "30 milhões de dólares". Seja como for, pode-se dizer que Garotinho foi flagrado no pântano e agora está liquidado? Não. Não se pode. E é justamente aí que começa o triunfo da bandidagem na política e, particularmente, nas eleições.
No plano criminal, que existe na órbita da Justiça, e não da política, Garotinho terá de prestar explicações pelas ilegalidades que possa ter cometido e estará sujeito às punições da lei. No plano eleitoral, no entanto, nada – rigorosamente nada – lhe acontece. Garotinho, mesmo que venham a ser confirmadas todas as suspeitas de irregularidades, não está sujeito a nenhuma sanção de caráter eleitoral porque não há lei falando do que pode e não pode ser feito em matéria financeira durante o período de pré-campanha, a fase em que Garotinho se encontra. A lei refere-se apenas ao período de campanha oficial, formalmente aberta e que só começará em 6 de julho. Trocando em miúdos, temos o seguinte devaneio: na campanha oficial é preciso ao menos manter a aparência de legalidade com os caixas eleitorais, mas na fase de pré-campanha nem isso é preciso. Nada mais adequado para o país do mensalão.
Claro que a direção do PMDB, se restar ao partido um grama de decência e outro tantinho de compostura, poderá pedir a Garotinho que tome o rumo de volta para casa, mas isso é duvidoso. Alguns aliados podem debandar, mas isso também é duvidoso. O eleitor, que hoje lhe dá 15% de preferência, pode virar-lhe as costas. Até agora, Garotinho chegou aonde está levantando a bandeira do populismo evangélico, fundindo aí patacoadas de palanque com louvações de templo. Agora, ao somar populismo evangélico com bandalheira política, é possível que o eleitorado recue, mas isso também não é certo. Afinal, Lula tem 40% de intenção de voto, ainda que seja o grande beneficiário das trambicagens homéricas da "organização criminosa" e que seus aliados do peito sejam penalmente tratados como "quadrilha".
O desastroso é que, do ponto de vista da legalidade eleitoral, Garotinho seguirá sendo um político igualzinho àqueles que nunca foram pegos com a boca na botija.
Existe convite mais explícito para atrair os delinqüentes em geral?