Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, abril 25, 2006

Privatização pôs o trem nos trilhos

Privatização pôs o trem nos trilhos

Artigo - Ariverson Feltrin
Gazeta Mercantil
25/4/2006

Atividade ferroviária passou a ser tratada como solução para os desafios logísticos do País. Algumas foram bem-sucedidas, algumas se revelaram fracassos, outras estão se equilibrando – têm sido assim as trajetórias resultantes das privatizações de serviços, concentradas celeremente no primeiro mandato do governo Fernando Henrique Cardoso.

O sucesso, talvez porque esperado, merece pouca atenção e comentário, a não ser dos próprios interessados. Pois vou falar de uma privatização que julgo ter obtido grande êxito. Trata-se da venda pelo Estado da malha ferroviária nacional.

Por décadas de ostracismo das ferrovias e da cabotagem, a matriz de transporte brasileira se calçou predominantemente sobre o modo rodoviário. Tratava-se, porém, de sucesso de tempo previsivelmente contado, até porque baseado na fragilidade dos outros modos de movimentação de cargas.

Não que a ferrovia possa destronar o caminhão, mas, privatizada, certamente tem seu espaço merecido e garantido, como, aliás, vem ocorrendo.

Estamos longe de um mundo de ferrovias impecáveis. Nossa malha, refém de décadas de desmazelo, enfrenta tais conseqüências, acompanhadas de vulnerabilidades operacionais. Dias atrás, numa conversa com Bernardo Hees, presidente da América Latina Logística (ALL), que privatizou o tramo Sul das ferrovias, disse o dirigente que sua malha, de 7 mil quilômetros, atravessa 4 mil passagens de nível.

Com mais ou menos incidência de pontos de retardamento dos trens, o traçado da malha passou a ser coabitado por agentes do mundo exterior às ferrovias.

Em menos de dez anos as empresas que assumiram as principais malhas do Estado puseram o negócio nos trilhos. As novas operadoras cresceram, abriram o capital, imprimiram o dinâmico ritmo de administração privada na atividade e olham para o futuro com bastante otimismo.

O sucesso exige boa e constante cumplicidade. E o cúmplice das ferrovias é nada mais nada menos que o dono da carga, que, visando seu próprio interesse, não poupa ajuda às operadoras.

É o que se pode chamar de processo ganha-ganha – com recursos do usuário, a ferrovia acelera seu ritmo de expansão, devolvendo ao usuário os resultados que ele busca.

Na ALL, por exemplo, segundo Hees, para o R$ 1 bilhão que a empresa investiu até o ano passado, o usuário colocou outro tanto.

Com isso, a frota é reforçada por vagões e locomotivas, reformados ou novos, melhorando a performance do sistema. O usuário, amparado por contrato, desconta no frete o investimento realizado no chamado material rodante.

Nada melhor que enfrentar as mazelas herdadas por anos de abandono do sistema com dinamismo e vitalidade, energia emanada das operadoras e dos usuários da ferrovia, razão de ser de uma atividade que, com a privatização, entrou definitivamente nos trilhos e, por isso, ao invés de problema, passou a ser encarada e tratada como solução para os desafios logísticos que cercam o desenvolvimento brasileiro.

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