Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 12, 2006

Merval Pereira - Sinais de vida

Merval Pereira - Sinais de vida


O Globo
12/4/2006

A pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem trouxe um pequeno alento à oposição, mostrando sinais tênues de vida na candidatura do ex-governador paulista Geraldo Alckmin, dando esperanças de que a popularidade do presidente Lula pode ser minada por denúncias de corrupção, a principal arma até agora da oposição na tentativa de desestabilizar a sua recandidatura.

Ao mesmo tempo, o procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma forte denúncia contra 40 pessoas que, segundo suas palavras, livres dos constrangimentos políticos do relatório da CPMI, formavam uma "organização criminosa" que era "estruturada em núcleos específicos".

"Como dirigentes máximos, tanto do ponto de vista formal quanto material, do Partido dos Trabalhadores, os denunciados, em conluio com outros integrantes do partido, estabeleceram um engenhoso esquema de desvio de recursos de órgãos públicos e de empresas estatais e também de concessões de benefícios diretos ou indiretos a particulares em troca de ajuda financeira", afirma o procurador.

"Os graves delitos" tiveram por objetivo principal, "no que concerne ao núcleo integrado por José Dirceu, Delúbio Soares, Sílvio Pereira e José Genoino, garantir a continuidade do projeto de poder do Partido dos Trabalhadores mediante a compra de suporte político de outros partidos políticos e do financiamento futuro e pretérito (pagamento de dívidas) das suas próprias campanhas eleitorais", afirma o relatório.

Os 40 indiciados, entre eles ex-ministros, são acusados de "formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, evasão ilegal de divisas, corrupção ativa e passiva e peculato". Com a aceitação oficial da tese de que houve um conluio criminoso entre dirigentes do PT e ministros do governo Lula para comprar apoio político com o objetivo de manter o poder político, a questão sai do âmbito partidário e ganha a chancela independente da Procuradoria Geral da República.

A denúncia, se complica de vez a situação do PT, pode ser entendida como um sinal da independência da Procuradoria Geral, cujo titular no governo de Fernando Henrique já foi chamado de "engavetador-geral". É o mesmo caso da Polícia Federal, apontada por muitos como mais independente na sua investigação na atual administração. Mas, se ficar provado que o ministro da Justiça tentou ajudar na defesa do ex-ministro Palocci mesmo já sabendo que ele infringira a lei quebrando o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, o trabalho da PF ficará sob suspeita.

Alguns cruzamentos da pesquisa divulgada ontem dão pequenas indicações de que existe vida adiante para o candidato tucano: Alckmin era desconhecido em fevereiro por quase 19% do eleitorado, e hoje esse índice caiu para 13,7%. Ao mesmo tempo, em fevereiro, Alckmin tinha 39,9% de rejeição e hoje esse índice caiu para 33,5%, o que significa que, à medida que fica mais conhecido, sua situação diante do eleitorado melhora.

Para fazer uma análise de tendência, os técnicos recomendam que se olhe tanto a rejeição como também o voto espontâneo no candidato. O presidente Lula, por exemplo, tinha 30% de votos espontâneos, e caiu para 26,4%, mas Alckmin, que tinha apenas 3,8%, passou para 9%. Não apenas cresceu expressivamente como um detalhe da pesquisa mostra que ele está absorvendo os votos de eleitores que preferiam Serra a ele: o ex-prefeito caiu de 10% de votos espontâneos para 2,8%.

Se a eleição fosse hoje, Lula teria 37,5% dos votos, contra 20,6% atribuídos a Alckmin. Na pesquisa anterior, Lula tinha 42,2%, e Alckmin 17,4%. A diferença, que era de 24,8 pontos em fevereiro, caiu para 16,9 pontos. Já o pré-candidato do PMDB Garotinho não flutuou muito na pesquisa do CNT/Sensus, ficando parado na faixa dos 15%, e, embora tenha tido uma redução expressiva de rejeição do eleitorado — de 59% para 50,7% — continua acima de 50%, faixa em que os analistas consideram impossível um candidato se eleger.

Um ponto de alerta para Alckmin é que seu índice de rejeição é quase igual ao de Lula — 33% contra 35% — mas o candidato tucano ainda é desconhecido por 13,7% do eleitorado, enquanto o grau de desconhecimento de Lula é praticamente nulo. Nas contas da oposição, o prestígio de Alckmin em São Paulo vai compensar a força de Lula no Nordeste, que permanece com 55% das preferências. Por enquanto, no entanto, isso não aconteceu, embora Lula tenha caído sete pontos em relação a Alckmin na Região Sudeste.

Nos eleitores de cinco a dez salários-mínimos, Lula caiu oito pontos, mas de dez a 20, subiu de 25% para 32%, num efeito claro do Bolsa-Miami. O problema de Alckmin está no Nordeste e nos eleitores que ganham até dez salários-mínimos, numa clara conseqüência do Bolsa-Família e outros programas assistencialistas. Lula dá uma lavada de 46% a 10% nos eleitores que ganham até um salário-mínimo e, de um a cinco salários, Lula tem 41% das intenções de voto contra 18% de Alckmin.

A análise da oposição procura "pêlo em ovo", como gosta de dizer o candidato Alckmin quando se refere a denúncias contra ele. Pois o site E-Agora, ligado ao PSDB e coordenado por Eduardo Graeff, que foi secretário-geral do governo Fernando Henrique, publicou um gráfico com o saldo de aprovação-desaprovação de Lula — a porcentagem dos que aprovam menos a dos que desaprovam — desde o começo do governo, com base na série da pesquisa CNT/Sensus. Mesmo que a queda seja normal em qualquer governo, há pontos importantes na tendência declinante:

- a segunda queda ficou 14 pontos abaixo da primeira;

- o segundo pico de recuperação, 24 pontos abaixo do primeiro;

- o primeiro movimento de recuperação durou oito meses, o segundo estaria se esgotando em cinco meses.

 

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