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Linhares/ES
Como o petróleo pode
fertilizar negócios
Linhares descobriu uma fórmula para disseminar a riqueza
que jorra de seus poços de óleo e gás por toda a sua economia
Marcelo Bortoloti
André Valentim |
Sala de controle de uma unidade de produção de petróleo e gás em Linhares: o município abriga a segunda maior usina de processamento de gás do país |
Há quatro anos, a Petrobras encontrou petróleo na fazenda de Jair Marim, em Linhares, no Espírito Santo. Aos 75 anos, Marim já era um bem-sucedido produtor de cana-de-açúcar e pimenta. Poderia ter simplesmente sentado sobre sua reserva e desfrutado os royalties que brotaram da terra. Preferiu investir em novos negócios. Comprou um hotel. Os 66 quartos do Linhatur são modestos. Ainda assim, vivem ocupados por funcionários da indústria de petróleo, que espetou 1 400 torres de extração de óleo na superfície de Linhares e mantém ali a segunda maior usina de processamento de gás do país. O movimento intenso do Linhatur e o volume de royalties pagos pela Petrobras incentivaram Marim a erguer um novo hotel. Desta vez, com acomodações mais luxuosas e o dobro da capacidade. "Os preços aqui já estão mais altos do que na capital, mas a freguesia está exigindo qualidade", explica. Marim, outros empresários de Linhares e o governo local conseguiram fazer com que o município aproveitasse a riqueza do seu subsolo melhor do que qualquer uma das outras 908 cidades brasileiras que recebem royalties do petróleo.
A literatura econômica é pródiga em estudos que mostram como o dinheiro de jazidas de óleo pode atrair má sorte para uma comunidade. Em muitos casos, ele incentiva a corrupção entre os políticos e não beneficia o conjunto da população. O fenômeno é conhecido como maldição do petróleo, que transforma até países em dependentes compulsivos da receita do produto. Linhares é atípica por dois motivos. Primeiro, porque o petróleo jorra em sua superfície, e não de campos em alto-mar, como ocorre nas principais bacias do país. Depois, porque a cidade descobriu uma receita para esconjurar a maldição. Os royalties, os investimentos da Petrobras e os salários de seus funcionários deram um novo estímulo aos empresários, que já sustentavam uma indústria diversificada. O município é um pólo moveleiro e metalúrgico. Também tinha uma agricultura potente. Linhares é o principal produtor de papaia do país e abriga os grandes exportadores da fruta. Um deles, José Carlos Marcondes, mantém noventa empregados para remeter semanalmente 60 toneladas do mamão ao exterior. O crescimento da cidade lhe deu entusiasmo para iniciar um novo negócio. Ele montou o Rio Doce, um laboratório de análise ambiental para atender à demanda das empresas que prestam serviço à Petrobras. "Já estou expandindo a empresa para atender outros clientes", diz Marcondes.
Embalada pelo petróleo e pelo surto empreendedor, a economia de Linhares cresceu 70% desde 2000. Há quatro anos, a cidade contava com 600 indústrias. Hoje, tem 1 000. O número de estabelecimentos comerciais cresceu 53% no mesmo período. A prosperidade atraiu 12 000 migrantes, boa parte deles apenas para trabalhar no setor de petróleo e gás, que emprega 9 000 pessoas. Esse contingente aumentou em 10% a população local, que chegou a 125 000 habitantes. A prefeitura tirou proveito dos royalties e do aumento da receita de impostos. Há dois anos, o ensino público fundamental da cidade recebia notas inferiores à média brasileira nas avaliações do Ministério da Educação. Agora, pontua melhor que a média do país. A prefeitura está requalificando seus funcionários. Oferece supletivo durante o expediente para 1 400 deles que não completaram o nível médio. Os 800 que já têm curso superior iniciaram a pós-graduação. A demanda por cursos superiores passou a ser atendida por uma recém-inaugurada faculdade pública municipal.
Na periferia, 16% dos barracos foram substituídos por moradias decentes. O governo pretende erradicar todas as favelas até 2010. No centro, começam a surgir prédios. Nove já ficaram prontos. Outros 23 estão em obras ou em fase de projeto. Um deles é um edifício de quarenta apartamentos ao custo unitário de 500 000 reais da construtora de Marcelo Japhet. Há dez anos, o empresário tinha um posto de gasolina. Depois que o petróleo começou a jorrar, o número de carros novos vendidos dobrou. As vendas de Japhet quintuplicaram. Ele investiu os primeiros lucros em uma academia de ginástica e, em seguida, enveredou pela construção civil. Aqui e acolá, os primeiros arranha-céus se juntam às torres de extração de petróleo no horizonte de Linhares.